sábado, 31 de julho de 2010

etna e a terra do mar longe XXXIV

Nunca me senti tão protogonista de uma história de vida como desde que me encontro nesta
Terra abençoada pelo mar de um azul céu e ondas cavalgando na calmaria .Etna Maria ,descobri-me um ser sensível .A caminhada por aquela rua feita de simples casas comerciais rentinhas ao passeio exalando o incenso para afugentar os maus espiritos fez-me sentir que afinal ,aquela Terra era uma cidade de histórias de encantar.Janelas fechadas há tanto tempo .Os que abriam
as portas para exibirem capulanas alegres e festivas e os alfaiates num apressado pedalar das máquinas de costura tinham debandado por esse mundo do Deus de todos.Guarida deveriam ter encontrado para recomeçar outras vidas.Como os búzios também devem chorá-los como te choram a ti ,Etna Mara !
De repente parei.Ai,nem queria acreditar no que via.O velhinho hotel .Bem centenário.Que idade
teria?Encolhi os ombros .Não admira ,aquele local não pertencia ao mundo dos socialised.Lembras-te do modo como se referenciava a esse hotel?Aquilo hotel?Ai,não!E por quê?Era o albergue à moda antiga de criaturas de alegria triste.Ainda todo bem avarandado em madeira parecia sorrir-me .Quantas crianças e mulheres hindus o percorriam.O telhado em zinco
ondulado lá estava como outrora guardando sonhos dispersos.À varanda ninguém assomou.Também eram horas mortas cheias de de maus e bem cheirosos cheiros vindos de cozinhas improvisadas no quintal .O incêndio à hora do meio dia ocorreu-me.Shiiiiiiiiiiii...que corropio de baldes pelos presentes e vizinhança .Toda a gente se apressou a ajudar a extinguir
as labaredas e conseguiram com alegria.Afinal um exlibris que me dava asas e raizes.
Perguntarás e o outro hotel habitado e visitado por gente de passagem com outro estatuto social.
Igualmente centenário com um bar requintado para os tempos ,jazia entre morros de líquen .Bombardeado pelos atritos bélicos partidários .Desisti de fazer perguntas .Não valia a pena .Agora era o símbolo de uma era que já fora.
Lá longe estás tu ,Etna Maria vivendo de lembranças junto ao rio que passa por ti ,corre ,flui
e tu ,sempre sozinha com a tua vida dura sem afagos ,sem flores apenas com as tuas raizes bem enterradas.
Maria ,filha do Mar Longe

domingo, 18 de julho de 2010

Etna e a Terra do Mar Longe xxxIII

Etna Maria
Eis-me em frente do Colégio onde iniciaste a caminhada do Saber e aprendeste formas de viver .Hoje é um espaço diferente .Nova gente o habita como Escola Secundária e a Capela passou a ser uma sala espaçosa de informática ,pelo menos foi a informação que me passaram.
Continua a ser o recanto especial virado para o mar que se espreguiça pelas areias da praia .
Olha-me com altivez como se eu fosse uma estranha .Sabes como o enfreitei?Sabes que nunca estarás só ?O espírito daquelas mulheres de burel branco vagueiam pelos andares ,pelas salas ,por todo o lado pq querem que vivas o presente com galhardia pq não há palavras para o que já não está mais.
Sentei-me num degrau .Curvei o meu corpo.Abracei as pernas .Ali fiquei enrolada .Aquele espaço
continua a ser o lugar onde moram palavras na companhia de memórias ,cheiros da areia molhada depois de uma intensa chuvada e ventos ao sabor das marés.Falam tanto .Falam das tricas ,namoricos escondidos,eventos desportivos ,palavras interditas ,anseios trémulos ,olhares assustados com o brilho da adolescência envergonhada.
No fim de contas ,este espaço toda a vida tão cobiçado pela promoção social e intelectual é ainda
pêndulo de vidas.Dá valor ao saber .Faz parte da auto estima ,do saudável contacto com as realidades novas levando a aceitar os limites da pessoa que se é.
Estive no campo desportivo sentada numa bancada .Um passado presentificado coube naquele espaço.Era o espaço dos desafios do hockey ,dos apupos ,dos aplausos ,da histeria pelos fans hockistas .
Sorri ao lembrar-me do 10 d junho Sei lá qtas vezes lhe adicionaram um aposto ou continuado .
Dia da Artilharia ,dia se Camões até que se chegou ao Dia da Raça....a partir de 1963 .....shiiiiiiiiii
maningue contestado ....Muitas vezes pensava pq não também o Dia das Religiões?Pq não se a Terra do Mar Longe é um melting pot de crenças desde o Alcorão ,à Biblia ao Hinduismo e às crenças ancestrais ?
Solenizava-se o 10 de junho com discursos com que se tentava ,se calhar,incutir um halo de Portugalidade.
Tretas ,Etna Maria .O que se pretendia era pôr o 10 de junho ao serviço de um passado de grandezas e heróis celebrados por Camões em "Os Lusíadas"assente no slogan "orgulhosamente sós" para se legitimar um presente sentenciado a um mito com pés de barro .É verdade ,esqueceram-se de que "os cavalos também se abatem."

Maria da Terra do Mar Longe

sábado, 10 de julho de 2010

Etna e a terra do mar longe xxxII







Como é bom voltar ao espaço que já foi nosso lar.Aí refugiam alegrias ,desdém e tristezas .


Afinal revisitar é preciso para que a alegria não seja uma casa demolida .Sabes onde estou?No supé do cinema onde ainda existem aquelas árvores de verdes frondosos sob as quais bancos outrora sempre povoados de gente a ler o jornal e as palavras não eram parcas.


Embora cobertas de poeira fotografei-as para as rever no nada para contar .Sentei-me num banco .Uma fiada de casas bem pegadinhas umas ás outras ainda descem a rua .Desdenham as


ausências .Lembras-te do bulício dos que entravam ,regatiavam e saiam com os embrulhos amarrados pelas capulanas ?Partiu-se em debandada por esse mundo do Deus de todos .Muitos já para o infinito.Mas a lojinha do barbeiro pequenino bem ladino ainda lá está torcida pelo tempo .Passava-se à tardinha sempre pejada de gente moça gargalhando ,enquanto aguardavam pela vez.Era bem castiço.Sempre bem disposto com a sua solidão.Devia sentir a vida com outra cor.Dizia-se que tinha sido deportado para a Terra do Mar Longe por questóes antifascistas .Mas


ele não se ralava .De manhanzinha ,na sua bicicleta seguido do seu rafeiro fazia o seu passeio matinal de que a criançada troçava.E lá ia pedalando em paz com a vida de chistes maliciosos sem nunca se ficar a saber da vida particular.Creio que ainda hoje estará bem presente nas memórias como ninguém.


Não há palavras ,Etna Maria ,para quem já não está mais.Não há nada a fazer senão abrir as portas da alma e nela derramar o desconsolo e também gratidâo .Vozes tranquilas do outro lado


do Universo acalmam a saudade.


Hoje ,este barbeiro é uma página do teu passado .


Bem merece a frase de Fernando Pessoa :


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram ,mas na intensidade com que acontecem.Por isso,existem momentos inesquicíveis ,coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"