sábado, 10 de julho de 2010

Etna e a terra do mar longe xxxII







Como é bom voltar ao espaço que já foi nosso lar.Aí refugiam alegrias ,desdém e tristezas .


Afinal revisitar é preciso para que a alegria não seja uma casa demolida .Sabes onde estou?No supé do cinema onde ainda existem aquelas árvores de verdes frondosos sob as quais bancos outrora sempre povoados de gente a ler o jornal e as palavras não eram parcas.


Embora cobertas de poeira fotografei-as para as rever no nada para contar .Sentei-me num banco .Uma fiada de casas bem pegadinhas umas ás outras ainda descem a rua .Desdenham as


ausências .Lembras-te do bulício dos que entravam ,regatiavam e saiam com os embrulhos amarrados pelas capulanas ?Partiu-se em debandada por esse mundo do Deus de todos .Muitos já para o infinito.Mas a lojinha do barbeiro pequenino bem ladino ainda lá está torcida pelo tempo .Passava-se à tardinha sempre pejada de gente moça gargalhando ,enquanto aguardavam pela vez.Era bem castiço.Sempre bem disposto com a sua solidão.Devia sentir a vida com outra cor.Dizia-se que tinha sido deportado para a Terra do Mar Longe por questóes antifascistas .Mas


ele não se ralava .De manhanzinha ,na sua bicicleta seguido do seu rafeiro fazia o seu passeio matinal de que a criançada troçava.E lá ia pedalando em paz com a vida de chistes maliciosos sem nunca se ficar a saber da vida particular.Creio que ainda hoje estará bem presente nas memórias como ninguém.


Não há palavras ,Etna Maria ,para quem já não está mais.Não há nada a fazer senão abrir as portas da alma e nela derramar o desconsolo e também gratidâo .Vozes tranquilas do outro lado


do Universo acalmam a saudade.


Hoje ,este barbeiro é uma página do teu passado .


Bem merece a frase de Fernando Pessoa :


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram ,mas na intensidade com que acontecem.Por isso,existem momentos inesquicíveis ,coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"




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