domingo, 6 de novembro de 2011

noites loucas

Convoca as estrelas

Uma a uma

Para entrarem

Nas órbitas celestes

do nosso corpo .

um a um
chegaremos

ao destino certo

dessas noites loucas

Maria ,filha do Mar longe

terça-feira, 7 de junho de 2011

Quero ir para casa.Cada vez mais .Ver Deus face a face .Conversar com Ele .Sem lágrimas ,nem tristezas.
Eu quero mesmo ir para casa.,para o meu Eden construido pelas minhas infâncias criadas ao sol e ao vento.Perdidas pelo o Universo .Então na minha falésia onde passei tantas horas a ver as tartarugas cabriolar .quero ,ouvir-me rasgar no mar as minhas palavras -
TU ,Deus ,dás e tiras
mas,louvo-te á mesma
por seres para mim ,Quem és
Não importa onde estás
Sempre escondido .
Sei ,contudo ,ó Deus ,
cada lágrima que eu chorar
TU seguras uma a uma nas Tuas mãos .

Sinto-me perdida de mim ..Refugiu-me no silêncio ..
Talvez precise de o explicar .
Talvez.
Aqui ,os dias vestem-se de cinzento .Alimentam a saudade da minha casa .Debruço-me sobre um tempo que me leva a lugares secretos .Só meus .As algas embranquecidas esperam-me .na memória do tempo que morri.Choram-me angustiadas.
Na falésia ,sinto-me como os meus livros .Fechada.Encerrada.. O mar espelha as minhas inquietações .O movimento das ondas a dansar com as valsas da s espumas ,ajuda-me a olhar-me
Quero voltar para casa.
Preciso de respirar devagar vozes ocultas ,imagens do tempo em que existi .Deixam mensagens que o vento leva para as esconder em espaços secretos .Apenas meus .
Aqui tudo é orquestrado .Sorrisos.Abraços sem alegria .Silêncio e vazios .Afectos mergulham em desafectos ..
Uma amargura imensa .Uma saudade intensa da minha casa .Quero ir mesmo para a minha casa.Maria do Mar longe

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Etna Maria recorda

Etna Maria
Eis recordações que me tens enviado de pessoas ,vidas ,sonhos que não chegaram a realizar-se na Terra do Mar Longe .Saltaram decepções ,enganos ,amores .Desta vez fiquei encantada com
a presença da Madame Lavado,tal como dizes uma ostra,mas sem o manto de madrepérola .
Era uma espécie de deusa Afrodite criada pelas espumas das marés da vida.Tomava bem conta de si.Frágil por um lado ,mas resistente por outro .Era uma ostra solitária num espaço igualmente solitário por onde apenas mufanas serviam -na carinhosamente.Andavam de ponto em branco .
O seu pescador não lhe lançara a rede.Se calhar não se fizera pérola .Ficara então naquele casarão com as dores da alma .Ainda me lembro do jardim lateral de canteiros com rosas sempre vigiadas por algum mufanita .No meio uma árvore de fruto .Agora como estaria?Se calhar completamente dominado pelas ervas daninhas povoadas de bogononos que rame rame cabriolariam pelas pedras a arrematar o que restava de canteiros.
A atmosfera daquele lugar vai-se infiltrando em mim que ao regressar do colégio á tarde qdo não havia desafios de berlindes,pelava-me por pilhar uma rosa sem receio de ser caçada por um dos seus guardiães mufanitas.
Enquanto deambulo por aquelas paragens ,deslizo o alfabeto do meu mundo silenciado .Transformo-o em linhas da minha gramática intimista .Partilho certamente da solidão daquela mulher enigmática.
Os ventos da nossa realidade já não têm sentido .Estamos mais sós ,mais vazios.




Não gosto da dor
é uma ostra desventrada
fica vazia do teu calor.
Nela fica a vida magoada
lentamente é largada
fora do meu cruzeiro.
Resisto
insisto
avanço
por ti chamo
de braços abertos
aos teus afectos...
Vou vencendo
o pior inimigo
em luta comigo
a solidão
fechada na mão.
Maria,filha do Mar Longe

sábado, 27 de novembro de 2010

Etna e a Madame Lvado

Etna Maria

Nunca calcurriei a Terra do Mar Longe como desde que estou aqui a revisitar os anos que passaram atirados para o outro lado do Mar.
Recordações guardadas num baú cheio de histórias e contos que de num momento para outro brincam ,enfrentam em silêncio um mundo à parte que tinha sido construido longe de tudo e de todos.Um sortilégio maravilhoso.Vivências detentoras de um espólio humano.Uma história de vidas ,castiças,pretenciosas ,divertidas ,ambiciosas,caricaturiais ,expoentes perfeitos de um poder com súbito nervosismo condenado a perder-se para sempre.
Tem sido uma aventura pegar no passado e reconstruir uma ponte por onde passaram vidas que
pagaram caro o lema tirânico "orgulhosamente sós"
Entra-se num mundo julgado esquecido,mas apaixonado pelo que aflora repentinamente com alegria.
Já não temos esse mundo.É a hora de regressar a um espaço onde já somos gente sem uma história.Porém ,não é fácil cortar o cordão umbilical
Adivinha onde me encontro.Diante do casarão da Madame Lavado.O velho batente lá estava baço no seu verde .Dei três batidas estridentes e gritei como se ela ouvisse:Madame Lavado ....Madame Lavado então qdo saem esses bolinhos ?
Ainda te lembras daquela velha senhora que não queria ser velha nem por nada deste mundo?E nem permitia que perturbassem a sua solidão.Cochichava-se sobre o que se passaria lá dentro.
E as noites ,como seriam passadas?Se calhar ,sob lençóis de seda esconderia as manchas da pele ,as rugas,a flacidez do corpo .As fantasias do Amor há muito que os anos deixaram de a despir.Vivia o sonho de se perpetuar como uma ostra.Qdo deixava o seu habitat ,empoava-se ,vestia-se com requinte ,enchia osa braços de braceletes ,a volta do pescoço ostentava um cordão
em ouro com voltas a mais e assim testemunhava como estava palpitante de vida.Demodée ou não ,que lhe importava?
Vagarosamente entrava na Igreja direitinha ao seu geneflexório aveludado vermelho com a chapinha prateada sobre o braço do mesmo com o seu nome em letras bem gordas.
Com olhinhos de águia astuta ,espiolhava tudo e todos com um sorrisinho desdenhoso como se não temesse que Deus não gostasse de a ver ali entre aquele povo dividido em brancos e não brancos em bancos corridos em madeiraá esquerda e as mulheres á direita com as crianças.Outros brancos nos seus geneflexórios com as chapas identificadas pelo nome de familia empertigados assistiam ao serviço religioso.

O resto do povoléu misturava-se á entrada da porta grande .Criava-se assim por momentos a ilusão de uma comunidade harmoniosa naquela casa de Deus.
Recordo o que dizias ,mastigando as palavras para não se ouvir o que segredavas :Achas que é altura de levantar o dedo e dizer :o rei vai nu?
Eu mandava-te calar dizendo :estamos a enganarmo-nos pq vivemos em constante agressão
á dicotomia branco e não branco.Como se dessa divisão disfarçada não conhecesses histórias de
fazer rir ,de homens que se julgavam super heróis qdo afinal eram anti-heróis ,escroques ,caçadores de perdizes de perna preta ou da cor de ébano .
Aqui não somos ninguém.Cala-te .A Madame Lavado não tira os olhos de nós .
Como a recordo,Etna Maria.Estar só não a perturbava dando a sensação de que vivia bem segura
do seu passado enigmático.
Um fogacho de luz cósmica deveria iluminar esse passado que a energizava preservando-o intacto.
Fica com este pensamento de uma grande poetisa brasileira" As pessoas são responsáveis e inocentes em relação ao que acontece com elas, sendo autoras de boa parte de suas escolhas e omissões"

Maria ,filha do Mar Longe

domingo, 14 de novembro de 2010

Etna num tempo em silêncio

Cada dia que passa é uma forma de me situar no espaço onde apenas a memória habita.
Etna Maria
Viajo num tempo já em silêncio .Não é preciso remexer nos valores de que somos fiéis herdeiros,africanos brancos portugueses de segunda classe.Jamais esqueceremos este anátema criado pelas forças do poder para nos diferenciar .Como se esse sentido selectivo tivesse tido o efeito esperado.Hoje ,após trinta e tal anos ,alterasse a nossa condição de africanos ,É como africanos que partiremos para o Universo da Luz Cósmica.
Esses valores despertam emoções .Levam a questionar a reviravolta nas nossas vidas no outro lado do Equador .Olho essa reviravolta em silêncio .Geografia humana de contornos sinuosos. A penas nos dão ,o País sem o nome da terra onde se nasceu e a vida começou.Racismo ou apenas marginalização?Fomos,sem dúvida ,um osso duro de roer e de digerir .Hoje ,somos apenas gente sem história.Restos fétidos de um tempo do qual durante tempos a Portugalidade já não era cravos engalanando estrategicamente o cano de espingardas ,mas um feriado aproveitado para destressar aqui ou acolá.
Etna Maria ,aqui navego pela memória sem mágoas pelas ruas deste rincão .Vultos,Recordações .
É o que subsiste .Um rascunho dos nossos longes falando de um espaço de todos e de ninguém .
Aí se esconde a nossa fragilidade disfarçada em indiferença por tempos sem regresso.
Um mundo já outro.
Aqui estou na busca desse mundo já outro.
Desço a rua dos shitolos .Já nem me lembro se tiveram nomes .Era a rua do jacob.A rua do hotel velho ,a do gindolo,a do Momadiana,a do clube dos hindus ,a do Rainho ,a do Alcobia enfim,de acordo com os comerciantes .Isto neste momento fez lebrar aquele provérbio lusitano "um só caminho como os bois do Minho"
Os shitolos dos hindus ,caladinhos ,de portas fechadas.Já lá ia o tempo a regorgitarem de gentes ,um bulablar apressado por causa do gazolina para a outra margem Capulanas coloridas,calções de caqui,sabão em barra ,máquinas de costura a pedalar sem cessar ,uns a entrar e outros a sair apressadamente.O shitolo da copra tb estava silenciosa .O cheiro enjoativo evaporara-se.Fazia-se daquele espaço uma espécie de clube onde se cruzavam pelos ares negócios a fechar
de acordo com a época dos produtos cultivados lá no interior no mato pela vizinhança da aldeia encaniçada.
Como estas lembranças devem comover-te,resentir o que já vivemos .Olhas para trás e percebes o passado com os olhos de hoje,A transitoriedade das coisas serão sempre socos no estomâgo.

Maria ,filha do mar longe


sábado, 6 de novembro de 2010


Etna

Sorrir nesta etapa da vida é fingir ser feliz .Faz parte da lembrança do nascer do Sol rosado num céu ainda ensonado de azul desmaiado,Solta palavras da minha interioridade .Dissipa as lágrimas e os sonhos que sonhei para as minhas infâncias criadas ao sol e ao vento .Magoada vou sobrevivendo,tentando compreender porque o século passado ressurge como caminhante que retoma a ira de as ter perdido,embora já sejamos bem distantes no tempo e no espaço.
Tento segurar lembranças transformadas numa ilha rodeadas pelas raízes de criança e alegrias vâs ,enterradas num livro de páginas já amarelicidas .
Que saudades Etna da terra do Mar Longe ,do cheiro a terra molhada com um bafo das suas entranhas após momentos de uma chuvada de bátegas assustadoras,seguidas de um sol risonho
bem cheio de calor sorridente e brincalhão.
O mar precisa das ondas para dar outra vida a este Universo.Lembras-te quando se fugia para
a praia e se tomava banho á chuva neste mar tranquilo ?Era uma paródia entre amigos das fugas de casa .
Que dizer dos cheiros dos jambuleiros madurinhos bem bojudos que pintavam os lábios de roxo que desafiavam a fúria da Mãe?e os cajus suculentos voluptuosos coloridos de amarelo e rosados com a castanha prontinha a saltitar na chapa de zinco de molde a ficarem estaladiças ?
As ateiras estarão ainda recheadas junto ao poço e em boa vizinhança com o cafezeiro raquitico?
As papaeiras continuarão a parir aquelas papaias gorduchonas e enormes?
O candeeiro da rotunda deixou de iluminar os apanhados africanos amarrados ao poste gritando sob as chicotadas do cavalo marinho dos cipaios?Claro,o trabalho sujo era feito por quem tinha de salvaguardar a sobrevivência familiar.Grande tática,sem dúvida.
Mas que grande baú de lembranças-dirás tu,Etna
É verdade!Os meus entas ainda não atraiçoam o fio da memória.

Etna ,não esqueças :

A memória está assente predominantemente no coração .

Maria,filha do Mar Longe