terça-feira, 30 de novembro de 2010

Etna Maria recorda

Etna Maria
Eis recordações que me tens enviado de pessoas ,vidas ,sonhos que não chegaram a realizar-se na Terra do Mar Longe .Saltaram decepções ,enganos ,amores .Desta vez fiquei encantada com
a presença da Madame Lavado,tal como dizes uma ostra,mas sem o manto de madrepérola .
Era uma espécie de deusa Afrodite criada pelas espumas das marés da vida.Tomava bem conta de si.Frágil por um lado ,mas resistente por outro .Era uma ostra solitária num espaço igualmente solitário por onde apenas mufanas serviam -na carinhosamente.Andavam de ponto em branco .
O seu pescador não lhe lançara a rede.Se calhar não se fizera pérola .Ficara então naquele casarão com as dores da alma .Ainda me lembro do jardim lateral de canteiros com rosas sempre vigiadas por algum mufanita .No meio uma árvore de fruto .Agora como estaria?Se calhar completamente dominado pelas ervas daninhas povoadas de bogononos que rame rame cabriolariam pelas pedras a arrematar o que restava de canteiros.
A atmosfera daquele lugar vai-se infiltrando em mim que ao regressar do colégio á tarde qdo não havia desafios de berlindes,pelava-me por pilhar uma rosa sem receio de ser caçada por um dos seus guardiães mufanitas.
Enquanto deambulo por aquelas paragens ,deslizo o alfabeto do meu mundo silenciado .Transformo-o em linhas da minha gramática intimista .Partilho certamente da solidão daquela mulher enigmática.
Os ventos da nossa realidade já não têm sentido .Estamos mais sós ,mais vazios.




Não gosto da dor
é uma ostra desventrada
fica vazia do teu calor.
Nela fica a vida magoada
lentamente é largada
fora do meu cruzeiro.
Resisto
insisto
avanço
por ti chamo
de braços abertos
aos teus afectos...
Vou vencendo
o pior inimigo
em luta comigo
a solidão
fechada na mão.
Maria,filha do Mar Longe

sábado, 27 de novembro de 2010

Etna e a Madame Lvado

Etna Maria

Nunca calcurriei a Terra do Mar Longe como desde que estou aqui a revisitar os anos que passaram atirados para o outro lado do Mar.
Recordações guardadas num baú cheio de histórias e contos que de num momento para outro brincam ,enfrentam em silêncio um mundo à parte que tinha sido construido longe de tudo e de todos.Um sortilégio maravilhoso.Vivências detentoras de um espólio humano.Uma história de vidas ,castiças,pretenciosas ,divertidas ,ambiciosas,caricaturiais ,expoentes perfeitos de um poder com súbito nervosismo condenado a perder-se para sempre.
Tem sido uma aventura pegar no passado e reconstruir uma ponte por onde passaram vidas que
pagaram caro o lema tirânico "orgulhosamente sós"
Entra-se num mundo julgado esquecido,mas apaixonado pelo que aflora repentinamente com alegria.
Já não temos esse mundo.É a hora de regressar a um espaço onde já somos gente sem uma história.Porém ,não é fácil cortar o cordão umbilical
Adivinha onde me encontro.Diante do casarão da Madame Lavado.O velho batente lá estava baço no seu verde .Dei três batidas estridentes e gritei como se ela ouvisse:Madame Lavado ....Madame Lavado então qdo saem esses bolinhos ?
Ainda te lembras daquela velha senhora que não queria ser velha nem por nada deste mundo?E nem permitia que perturbassem a sua solidão.Cochichava-se sobre o que se passaria lá dentro.
E as noites ,como seriam passadas?Se calhar ,sob lençóis de seda esconderia as manchas da pele ,as rugas,a flacidez do corpo .As fantasias do Amor há muito que os anos deixaram de a despir.Vivia o sonho de se perpetuar como uma ostra.Qdo deixava o seu habitat ,empoava-se ,vestia-se com requinte ,enchia osa braços de braceletes ,a volta do pescoço ostentava um cordão
em ouro com voltas a mais e assim testemunhava como estava palpitante de vida.Demodée ou não ,que lhe importava?
Vagarosamente entrava na Igreja direitinha ao seu geneflexório aveludado vermelho com a chapinha prateada sobre o braço do mesmo com o seu nome em letras bem gordas.
Com olhinhos de águia astuta ,espiolhava tudo e todos com um sorrisinho desdenhoso como se não temesse que Deus não gostasse de a ver ali entre aquele povo dividido em brancos e não brancos em bancos corridos em madeiraá esquerda e as mulheres á direita com as crianças.Outros brancos nos seus geneflexórios com as chapas identificadas pelo nome de familia empertigados assistiam ao serviço religioso.

O resto do povoléu misturava-se á entrada da porta grande .Criava-se assim por momentos a ilusão de uma comunidade harmoniosa naquela casa de Deus.
Recordo o que dizias ,mastigando as palavras para não se ouvir o que segredavas :Achas que é altura de levantar o dedo e dizer :o rei vai nu?
Eu mandava-te calar dizendo :estamos a enganarmo-nos pq vivemos em constante agressão
á dicotomia branco e não branco.Como se dessa divisão disfarçada não conhecesses histórias de
fazer rir ,de homens que se julgavam super heróis qdo afinal eram anti-heróis ,escroques ,caçadores de perdizes de perna preta ou da cor de ébano .
Aqui não somos ninguém.Cala-te .A Madame Lavado não tira os olhos de nós .
Como a recordo,Etna Maria.Estar só não a perturbava dando a sensação de que vivia bem segura
do seu passado enigmático.
Um fogacho de luz cósmica deveria iluminar esse passado que a energizava preservando-o intacto.
Fica com este pensamento de uma grande poetisa brasileira" As pessoas são responsáveis e inocentes em relação ao que acontece com elas, sendo autoras de boa parte de suas escolhas e omissões"

Maria ,filha do Mar Longe

domingo, 14 de novembro de 2010

Etna num tempo em silêncio

Cada dia que passa é uma forma de me situar no espaço onde apenas a memória habita.
Etna Maria
Viajo num tempo já em silêncio .Não é preciso remexer nos valores de que somos fiéis herdeiros,africanos brancos portugueses de segunda classe.Jamais esqueceremos este anátema criado pelas forças do poder para nos diferenciar .Como se esse sentido selectivo tivesse tido o efeito esperado.Hoje ,após trinta e tal anos ,alterasse a nossa condição de africanos ,É como africanos que partiremos para o Universo da Luz Cósmica.
Esses valores despertam emoções .Levam a questionar a reviravolta nas nossas vidas no outro lado do Equador .Olho essa reviravolta em silêncio .Geografia humana de contornos sinuosos. A penas nos dão ,o País sem o nome da terra onde se nasceu e a vida começou.Racismo ou apenas marginalização?Fomos,sem dúvida ,um osso duro de roer e de digerir .Hoje ,somos apenas gente sem história.Restos fétidos de um tempo do qual durante tempos a Portugalidade já não era cravos engalanando estrategicamente o cano de espingardas ,mas um feriado aproveitado para destressar aqui ou acolá.
Etna Maria ,aqui navego pela memória sem mágoas pelas ruas deste rincão .Vultos,Recordações .
É o que subsiste .Um rascunho dos nossos longes falando de um espaço de todos e de ninguém .
Aí se esconde a nossa fragilidade disfarçada em indiferença por tempos sem regresso.
Um mundo já outro.
Aqui estou na busca desse mundo já outro.
Desço a rua dos shitolos .Já nem me lembro se tiveram nomes .Era a rua do jacob.A rua do hotel velho ,a do gindolo,a do Momadiana,a do clube dos hindus ,a do Rainho ,a do Alcobia enfim,de acordo com os comerciantes .Isto neste momento fez lebrar aquele provérbio lusitano "um só caminho como os bois do Minho"
Os shitolos dos hindus ,caladinhos ,de portas fechadas.Já lá ia o tempo a regorgitarem de gentes ,um bulablar apressado por causa do gazolina para a outra margem Capulanas coloridas,calções de caqui,sabão em barra ,máquinas de costura a pedalar sem cessar ,uns a entrar e outros a sair apressadamente.O shitolo da copra tb estava silenciosa .O cheiro enjoativo evaporara-se.Fazia-se daquele espaço uma espécie de clube onde se cruzavam pelos ares negócios a fechar
de acordo com a época dos produtos cultivados lá no interior no mato pela vizinhança da aldeia encaniçada.
Como estas lembranças devem comover-te,resentir o que já vivemos .Olhas para trás e percebes o passado com os olhos de hoje,A transitoriedade das coisas serão sempre socos no estomâgo.

Maria ,filha do mar longe


sábado, 6 de novembro de 2010


Etna

Sorrir nesta etapa da vida é fingir ser feliz .Faz parte da lembrança do nascer do Sol rosado num céu ainda ensonado de azul desmaiado,Solta palavras da minha interioridade .Dissipa as lágrimas e os sonhos que sonhei para as minhas infâncias criadas ao sol e ao vento .Magoada vou sobrevivendo,tentando compreender porque o século passado ressurge como caminhante que retoma a ira de as ter perdido,embora já sejamos bem distantes no tempo e no espaço.
Tento segurar lembranças transformadas numa ilha rodeadas pelas raízes de criança e alegrias vâs ,enterradas num livro de páginas já amarelicidas .
Que saudades Etna da terra do Mar Longe ,do cheiro a terra molhada com um bafo das suas entranhas após momentos de uma chuvada de bátegas assustadoras,seguidas de um sol risonho
bem cheio de calor sorridente e brincalhão.
O mar precisa das ondas para dar outra vida a este Universo.Lembras-te quando se fugia para
a praia e se tomava banho á chuva neste mar tranquilo ?Era uma paródia entre amigos das fugas de casa .
Que dizer dos cheiros dos jambuleiros madurinhos bem bojudos que pintavam os lábios de roxo que desafiavam a fúria da Mãe?e os cajus suculentos voluptuosos coloridos de amarelo e rosados com a castanha prontinha a saltitar na chapa de zinco de molde a ficarem estaladiças ?
As ateiras estarão ainda recheadas junto ao poço e em boa vizinhança com o cafezeiro raquitico?
As papaeiras continuarão a parir aquelas papaias gorduchonas e enormes?
O candeeiro da rotunda deixou de iluminar os apanhados africanos amarrados ao poste gritando sob as chicotadas do cavalo marinho dos cipaios?Claro,o trabalho sujo era feito por quem tinha de salvaguardar a sobrevivência familiar.Grande tática,sem dúvida.
Mas que grande baú de lembranças-dirás tu,Etna
É verdade!Os meus entas ainda não atraiçoam o fio da memória.

Etna ,não esqueças :

A memória está assente predominantemente no coração .

Maria,filha do Mar Longe


terça-feira, 2 de novembro de 2010

sou o que sou


Etna


A noite vazia transforma o silêncio que me lembrou que tu és a minha interlocutora priveligiada.
Preciso de sair desta solidão ,Se não fossem as tuas cartas como as feridas da saudade se cicatrizariam?
Vivo um coração triturado por tanto que perdi.Custa-me admitir que o sonho se evadiu e esse sonho flutua como a viagem que tu tanto insistes em marcar.Não sei se irei.
Passeando pelo calçadão ao longo do rio ,o frio trouxe-me para casa onde o vento me fez lembrar
as monções da Terra do Mar Longe.Olhei o céu despido de estrelas.É nelas que quero guardar as coisas pequenas mas grandes por dentro .Sorriem.Recusam-me .E eu quero ir ao encontro da minha estrela azul para nela encontrar Paz .Nela escrevo a minha solidão ,Sabes o que fez?Estendeu um raio de luz para esquecer o tempo em que andei perdida .A minha alma ouviu uma orquestra de citaras que fizeram recordar em silêncio o eco do Amor que queima dentro de mim e teimo em repudiar.
Afinal,Etna quem sou?
sou um sonho inacabado
sou a incerteza da certeza do que sou
sou solidão
sou apaixonada pela vida
sou a cor da esperança
sou uma aresta de beijos
sou aquela que foi princesa de um condado
sou o que não quer ser
cores,dunas,flores
sou um tempo a cicatrizar feridas
sou palavras sonhadas
sou um rio a desaguar
sou um coração coragem
sou lágrimas á janela
sou o bote dos búzios
sou o medo do alto mar
sou uma ilha perdida
sou a derrota das derrotas da vida
Um dia serei a música
de um assombroso amanhecer.

Etna ,para não me sentir nesta solidão infernal ,parto no meu alasão branco ,de cabelos ao vento
em busca da minha estrela azul que ilumina o meu caminho.Conversamos.Fascínio.Ficciono o meu EU.Enterro esse EU onde a cor de ébano espreguiça a sensualidade ,divertindo-se com a nudez do meu corpo ,uma fragata esfrangalhada .Calo as palavras .Transformo-as em metáforas
para um TU ausente no outro lado do mar.
Dois oceanos que sulcam ondas de espuma furibundas por nunca poderem abraçar-se num enlace de caricias pertubadoras.
Grito pela estrela azul ,Pergunto :porque foges?Persigo o teu rasto luminoso,deslizas pelo Universo ao som de lãgrimas.
já as sequei e a minha interioridade transformou-te num oasis ,o deus dos meus deuses.
A consciência cósmica ostensivamente determinista sorri dizendo:Tudo passa menos o Amor .
Mas que Amor tão estranho!Afinal um Amor de viajantes eternos com o aval do Mestre dos búzios para todo o sempre.
Nessa estrela azul deixei as coisas pequenas mas tão ricas por dentro.

De corpo e alma
invado-me de ti
banho-me nas tuas águas
vida de fráguas
tropeço
desfaleço
Mas por ti espero
em qualquer momento
num lugar .
Teu sorriso

leve
suave
abraçará meu corpo
sem folego
em labaredas de fogo
sem parar.

Maria ,filha do Mar Longe

sábado, 31 de julho de 2010

etna e a terra do mar longe XXXIV

Nunca me senti tão protogonista de uma história de vida como desde que me encontro nesta
Terra abençoada pelo mar de um azul céu e ondas cavalgando na calmaria .Etna Maria ,descobri-me um ser sensível .A caminhada por aquela rua feita de simples casas comerciais rentinhas ao passeio exalando o incenso para afugentar os maus espiritos fez-me sentir que afinal ,aquela Terra era uma cidade de histórias de encantar.Janelas fechadas há tanto tempo .Os que abriam
as portas para exibirem capulanas alegres e festivas e os alfaiates num apressado pedalar das máquinas de costura tinham debandado por esse mundo do Deus de todos.Guarida deveriam ter encontrado para recomeçar outras vidas.Como os búzios também devem chorá-los como te choram a ti ,Etna Mara !
De repente parei.Ai,nem queria acreditar no que via.O velhinho hotel .Bem centenário.Que idade
teria?Encolhi os ombros .Não admira ,aquele local não pertencia ao mundo dos socialised.Lembras-te do modo como se referenciava a esse hotel?Aquilo hotel?Ai,não!E por quê?Era o albergue à moda antiga de criaturas de alegria triste.Ainda todo bem avarandado em madeira parecia sorrir-me .Quantas crianças e mulheres hindus o percorriam.O telhado em zinco
ondulado lá estava como outrora guardando sonhos dispersos.À varanda ninguém assomou.Também eram horas mortas cheias de de maus e bem cheirosos cheiros vindos de cozinhas improvisadas no quintal .O incêndio à hora do meio dia ocorreu-me.Shiiiiiiiiiiii...que corropio de baldes pelos presentes e vizinhança .Toda a gente se apressou a ajudar a extinguir
as labaredas e conseguiram com alegria.Afinal um exlibris que me dava asas e raizes.
Perguntarás e o outro hotel habitado e visitado por gente de passagem com outro estatuto social.
Igualmente centenário com um bar requintado para os tempos ,jazia entre morros de líquen .Bombardeado pelos atritos bélicos partidários .Desisti de fazer perguntas .Não valia a pena .Agora era o símbolo de uma era que já fora.
Lá longe estás tu ,Etna Maria vivendo de lembranças junto ao rio que passa por ti ,corre ,flui
e tu ,sempre sozinha com a tua vida dura sem afagos ,sem flores apenas com as tuas raizes bem enterradas.
Maria ,filha do Mar Longe

domingo, 18 de julho de 2010

Etna e a Terra do Mar Longe xxxIII

Etna Maria
Eis-me em frente do Colégio onde iniciaste a caminhada do Saber e aprendeste formas de viver .Hoje é um espaço diferente .Nova gente o habita como Escola Secundária e a Capela passou a ser uma sala espaçosa de informática ,pelo menos foi a informação que me passaram.
Continua a ser o recanto especial virado para o mar que se espreguiça pelas areias da praia .
Olha-me com altivez como se eu fosse uma estranha .Sabes como o enfreitei?Sabes que nunca estarás só ?O espírito daquelas mulheres de burel branco vagueiam pelos andares ,pelas salas ,por todo o lado pq querem que vivas o presente com galhardia pq não há palavras para o que já não está mais.
Sentei-me num degrau .Curvei o meu corpo.Abracei as pernas .Ali fiquei enrolada .Aquele espaço
continua a ser o lugar onde moram palavras na companhia de memórias ,cheiros da areia molhada depois de uma intensa chuvada e ventos ao sabor das marés.Falam tanto .Falam das tricas ,namoricos escondidos,eventos desportivos ,palavras interditas ,anseios trémulos ,olhares assustados com o brilho da adolescência envergonhada.
No fim de contas ,este espaço toda a vida tão cobiçado pela promoção social e intelectual é ainda
pêndulo de vidas.Dá valor ao saber .Faz parte da auto estima ,do saudável contacto com as realidades novas levando a aceitar os limites da pessoa que se é.
Estive no campo desportivo sentada numa bancada .Um passado presentificado coube naquele espaço.Era o espaço dos desafios do hockey ,dos apupos ,dos aplausos ,da histeria pelos fans hockistas .
Sorri ao lembrar-me do 10 d junho Sei lá qtas vezes lhe adicionaram um aposto ou continuado .
Dia da Artilharia ,dia se Camões até que se chegou ao Dia da Raça....a partir de 1963 .....shiiiiiiiiii
maningue contestado ....Muitas vezes pensava pq não também o Dia das Religiões?Pq não se a Terra do Mar Longe é um melting pot de crenças desde o Alcorão ,à Biblia ao Hinduismo e às crenças ancestrais ?
Solenizava-se o 10 de junho com discursos com que se tentava ,se calhar,incutir um halo de Portugalidade.
Tretas ,Etna Maria .O que se pretendia era pôr o 10 de junho ao serviço de um passado de grandezas e heróis celebrados por Camões em "Os Lusíadas"assente no slogan "orgulhosamente sós" para se legitimar um presente sentenciado a um mito com pés de barro .É verdade ,esqueceram-se de que "os cavalos também se abatem."

Maria da Terra do Mar Longe

sábado, 10 de julho de 2010

Etna e a terra do mar longe xxxII







Como é bom voltar ao espaço que já foi nosso lar.Aí refugiam alegrias ,desdém e tristezas .


Afinal revisitar é preciso para que a alegria não seja uma casa demolida .Sabes onde estou?No supé do cinema onde ainda existem aquelas árvores de verdes frondosos sob as quais bancos outrora sempre povoados de gente a ler o jornal e as palavras não eram parcas.


Embora cobertas de poeira fotografei-as para as rever no nada para contar .Sentei-me num banco .Uma fiada de casas bem pegadinhas umas ás outras ainda descem a rua .Desdenham as


ausências .Lembras-te do bulício dos que entravam ,regatiavam e saiam com os embrulhos amarrados pelas capulanas ?Partiu-se em debandada por esse mundo do Deus de todos .Muitos já para o infinito.Mas a lojinha do barbeiro pequenino bem ladino ainda lá está torcida pelo tempo .Passava-se à tardinha sempre pejada de gente moça gargalhando ,enquanto aguardavam pela vez.Era bem castiço.Sempre bem disposto com a sua solidão.Devia sentir a vida com outra cor.Dizia-se que tinha sido deportado para a Terra do Mar Longe por questóes antifascistas .Mas


ele não se ralava .De manhanzinha ,na sua bicicleta seguido do seu rafeiro fazia o seu passeio matinal de que a criançada troçava.E lá ia pedalando em paz com a vida de chistes maliciosos sem nunca se ficar a saber da vida particular.Creio que ainda hoje estará bem presente nas memórias como ninguém.


Não há palavras ,Etna Maria ,para quem já não está mais.Não há nada a fazer senão abrir as portas da alma e nela derramar o desconsolo e também gratidâo .Vozes tranquilas do outro lado


do Universo acalmam a saudade.


Hoje ,este barbeiro é uma página do teu passado .


Bem merece a frase de Fernando Pessoa :


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram ,mas na intensidade com que acontecem.Por isso,existem momentos inesquicíveis ,coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"




domingo, 27 de junho de 2010

Etna Maria no outro lado do MAR lONGE

Hoje voo nas asas de Pegaso pelo Universo para ver se me encontro.Procuro-me
Sinto-me perdida num mundo ao qual já não pertenço.
Preciso mesmo de me esquecer dentro de mim.Há momentos assim.E deseja-se
a noite vadia de volta para o esquecimento para não querer nada sequer do
que nada se é daquilo que se é.Sou apenas a corrente de um rio .Deixo-me navegar
nas águas da esperança de instalar os dias frios das ausências e partidas.E afinal
acabo por naufragar na corrente para perder -me a mim mesma e nesse naufrágio
não se reconhecer quem fui e sou tão pouco .
Ficam sempre pedaços de vida que nos deixam muito sós ,mas ajudam a seguir em frente o rumo de Eolo ,do Olimpo onde os deuses nos vigiam atentamente ,das constelações luminosas e,sobretudo,da voz poderosa do hoje.

Maria ,filha do Mar Longe

terça-feira, 22 de junho de 2010

Etna e a Terra do Mar Longe

Ena Etna Maria ,muito recordas da Terra do Mar longe .Nem imaginas as fotos tiradas.Vão deliciar-te.Vão lembrar-te bem de onde vieste.Por aqui ando avivando recordações que,após
tão longa ausência ,fazem sorrir.
Sei bem quanto as coisas pequeninas são as mais ricas por dentro fazendo-te muito feliz.Não há
lugar que não me encha de alegria .Uma forma de relacionarmo-nos com a vida,despindo a nostalgia ,os cheiros,o pôr do sol vestido de amarelo de braço dado com o castanho e o vermelho.
as mangueiras pejadas de mangas a amadurecer e os cajueiros com aqueles pomos de nectar bem coloridos.
A Terra do Mar Longe mora eternamente dentro de nós .Viu-te nascer.Deu-te as infâncias perdidas .És fruto deste mundo e nele queres morrer.Neste mar da vida ,resta-nos aproveitar
cada momento .
Subo a ladeira .Respirei a luz do sol que ilumina a caminhada em direcção ao cinema de largas entradas agora repletas de nada nos dois lados.
Nas noites de cinema regorgitava de gente .Uns fumando .Outros bulablando ou fazendo curtos
picadeiros.
A rua deserta sussurra lembranças de ontem ,ouvindo-se mercedes benz preocupados com o estacionamento no mesmo parking do governador como forma galharda de exteriorizar a balança
da vida.Vejo-os na neblina do tempo Enxertos de memória levam-me à sala do cinema .Lembras-te da divisória quase ao fundo da plateia?Aí ficavam os mufanas das sananas
dos molungos e das sinharas .Como vibravam nos filmes de Far west!Ouvia-se "eh!pá,languça
e qdo o herói do tiroteio saia ileso ....um alarido de satisfação.Saiam lateralmente .Nada de misturas ,caso para dizer "cada macaco no seu galho",mas em grande galhofa com tregeitos dos tiros ou outros gargalhando.
Tive pena daquele espaço destinado ao silêncio na carreira de entretenimento.
Tem como companhia o velho clube Sporting frequentado pela elite de poder económico socialised .Hoje de janelas fechadas de paredes delambidas pela humidade das chuvas .Somente
um corpo enrugado .Mesmo assim ,apetecia-me um pedido:deixa-me entrar ,ver -te por dentro
rever a altivez da elite ou julgas que esqueci o tempo em que expulsavam a criançada fora do
circuito monetário?Não passa de uma alegoria mundana .Uma identificação inquietante.Nem sei
os anos de existência.
Desci a ruela de antiquérrimos casarões ,bem aborrecidos com tanta solidão.Fui desembocar ao
Banco.Entrei para cambiar uns parcos dólars .O balcão abarrotava de clientes.Expeditos,sabedores dos interesses económicos.Atarantada a minha vez demorou a chegar.Pude observar a ligeireza com que movimentavam os seus interesses.Um rosto feminino
,fechado abeirou-se de mim.Em silêncio os dolars foram cambiados .Nem um sorriso que mais não fosse de cordialidade turistica .
Que somos nós?Fantasmas?Senti-me mesmo um fantasma solitário de uma vida roubada ...um ente sem ser como costumas definir-te que te leva para muito longe com tantas palavras por dizer .À medida que por aqui vagabundeio ,vou compreendendo melhor os teus dias de tempestades por não estares neste chão e viveres o abismo solitário de ti própria mas sempre
humana.
Lembranças,memórias de um tempo ido em algures perdidos nos recantos do tempo .Agora ,no
outono da vida ,são apenas retalhos amarelecidos.

Maria,filha da Terra do Mar longe


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Etna Maria recorda

Etna
O verão ainda não chegou .A primavera espreguiça-se por aqui quase todos os dias .O tempo arrepiante faz eco numa chuvinha aos ziguezagues ,deixando a abacateira ,a bananeira e a bunganvilia a lacrimijarem .O vento dançante na folhas intimida as roupas leves .Talvez por isso ,
procuro no silêncio humano do bairro ,a minha ausência da Terra do Mar Longe.Onde não estou.
Onde estás tu para aí deixares em liberdade o Espirito das minhas infâncias inocentes pelas dunas como escorregas num grande alarido.
Transporto-me para a marginal .Neste propósito vou até á piscina já sem a rede á volta por causa dos tubarões .No meio ,lembras-te da prancha sempre superlotada de miudagem para
saltos consecutivos aplaudidos pelas apostas dos amiguinhos ?Defronte ,o Clube destinado quase
exclusivamente a brancos e a alguns de cor africana já com nível social ou profissional na função
pública .Aí se reunia uma elite do snooker,do poker . xadrês. Tardes femininas marcavam presença nas jogatanas da canastra e do majong .
Ecos de um passado que vai ficando vazio.Balbuciam segredos que se libertam nas noites enluaradas ao som do batuque na terra dos pombos verdes .Ainda por lá saltam de coqueiro em coqueiro?Testemunhas curiosas de encontros de amores clandestinos passeando á beira mar tranquilamente .
Fixo os olhos nesse longe tão longínquo mas ainda consigo vislumbrar os abutres do medo ,bem como ouvir "mamãe iango" "mamãe iango" gritados ,doridos,chorados sob as chicotadas do cavalo marinho empunhado pelos cipaios .Era um momento de estarrecer.Percorriam a nossa
avenida e punham em debandada mães e avós ,á hora do almoço ,com as crianças para a pérgola
vizinha da casa do Capitão do Porto por onde corria uma aragem acarinhada pelas marés cheias
ou vazantes e a frescura da maresia tecladas aos acordes das casuarinas bem centenárias .
Já subiste a ladeira do Palácio do Governador?Lembras-te do casarão solarengo da nossa infância?No interior grandes salões ,um bar sempre bem frequentado e no exterior baloiços ,argolas para a pequenada ,um cort de ténis bem limpinho e tratado com esmero
para a exibição de partidas de apaixonados pelo ténis exemplarmente vestidos de branco a rigor
com raquetes de qualidade.Ali nada faltava ,cadeirões e bebidas fresquinhas.,sombras bem acolhedoras.
Diz me ,não deitaram abaixo aquela frondosa amendoeira onde iamos pilhar amendoas gordochonas bem madurinhas ?O salão paroquial ainda está aberto á comunidade?E a paróquia
continua a ser um ponto de referência na esquina da ladeira?No largo fronteiriço ,a frondosa árvore continua sã e viva?Era aí que se ficava a jogar ao berlinde ,á saída das aulas ,que acabavam em campeonatos de colecção com um bom bónus de berlindes surrapiados das derrotas do adversário a choringar.Meninos que nunca mais encontrei e pensando neles sinto um
deep breath que sufoca um grito do mais profundo ser.Ás vezes ,nestas deambulações por um tempo sem volta ,tenho a veleidade de me sentir uma Antígona que se rebela por ter sido enterrada viva .Há valores universais que não se submetem a déspotas com direitos a desencadear uma tragédia humana.
Os meus sonhos estão encerrados numa gaveta do meu coração.Aí os guardo .De vez em quando ,abro a gaveta pq me ajuda a lembrar que existo.
Mãe África não deites fora a minha identidade.Ela é feita de coisas bem pequeninas mas muito
ricas por dentro ,apesar de as acharem lixo ,mas eu chamo ,meu tesouro mesmo na ponte á espera da barca de Caronte .
Maria ,filha do Mar Longe.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

MÃE ÁFRICA


MÃE ÁFRICA


QUE FAZER DE TANTA SAUDADE
VENTOS PRA LONGE ME TROUXERAM
VIDAS SEM FIM SILENCIARAM.

QUE FAZER DE TANTA SAUDADE
PRECISO ESTAR PERTO DE TI
PRA CUIDARES OUTRA VEZ DE MIM.

Ó MÃE ÁFRICA
COBRE ESTE FRIO TIRITANTE
BEBE AS LÁGRIMAS QUENTES
CALA SOLUÇOS SERPENTEANTES

SOU UM BARCO SOBRE O TEU AZUL
GAIVOTA DE OLHOS FECHADOS
FAROL EM VOO FINAL.

MÃE ÁFRICA
QUE FAZER DE TANTA SAUDADE
DOS LABIRINTOS SOLITÁRIOS
ESTRELADOS,CHORADOS,MAGOADOS.

MARIA ,FILHA DO MAR LONGE

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Etna e a terra do mar longexxxIII


Etna somos uma asa de Deus ,aquela ser sempre escondido.O que seria da existencia sem esta
asa ?!Não seria um hino á Primavera de regatos ,flores,brisas acariaciadoras ,flores e arco-iris ao som do passaredo saltitando de ramo em ramo ,uma porta aberta para o Verão cálido espreguiçando-se na areia da praia beijada pelas ondas brincalhonas.Mas,um deserto batido pelos ventos arenosos ,fazendo-nos sentir ausentes de nós próprios .Não basta viver .Há que ter
alguém com quem falar,partilhar todas as coisas como se fosse connosco próprios .Se calhar ,foi
por isso que nasceu o mito dos primeiros Pais da Humanidade.
Mas,eu fiquei sem alguém ,Sem nada.Hoje sou apenas companheira do Destino que procura controlar-me.Eu sobrevivo a esse controlo-parei de sonhar no meu Universo.É o lar dos meus
silêncios.Tenho como companhia os astros por onde vagueiam os afectos de mãos dadas com o meu TU misterioso .
Sabes Etna ,a asa de Deus que somos ,o poema de Almeida Garret "Eu tinha umas asas brancas"
veio á memória :
Eu tinha umas asas brancas
Asas que um anjo me deu
Que me cansando da terra
batia as ,voava ao céu.
Mas
.........................................................................
Pena a pena me cairam
nunca mais voei ao céu,

Abismo mágico,Etna.

Já não voo para ser feliz .Consigo passear no labirinto da solidão onde tb há regatos ,flores e arco-iris envolvendo-me pela voz do coração.

Maria ,filha do Mar Longe

domingo, 18 de abril de 2010

Etna Maria e a vida

A vida é um livro .Nas páginas registei alegrias,fracassos,sucessos.São imagens que povoam os

pensamentos.Recordo-as a cada momento.São vidas da vida.Sonhos de sonhos.Persigo o meu

real .Sozinha procuro o esquecimento da minha condição humana.E fico-me pelo mistério da

existência como uma asa de Deus.

Maria,filha do Mar Longe

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Etna Maria e o rio que secou

"rio que secou"uma frase que vai surpreender-te .Fujo assim ao meu silêncio.Após o tempo em que recebia as tuas cartas onde falas do que somos gente sem história,fui tomando alento para enfrentar o vazio em que caí com a partida do Tiago para o outro Universo .Recebi uma msg na minha página .Tenho que te dizer "o Tiago já não está entre nós ...abusava dos amanheceres ,adorava p nascer do sol africano e,apesar das recomendações dos repelentes ,a malária vitimou-o com tremores violentos e delírios ."Bastou esta rajada de vento para me desmoronar.Sabia que esforçava-se por apressar o seu regresso.Não me preocupava.Aparecia sempre relâmpago qdo tinha tempo.Aqueles chats calaram-se para sempre.Pelo menos ,deve ter encontrado a paz interior,embora eu tenha ficado sem horizontes .Leio e releio as tuas cartas .Invejo o sentido que dás à vida.
Que boa essa consciência das raizes da Terra do Mar Longe ,mesmo que carregues
um fantasma na alma.
Como gostaria de me transformar num flamingo de plumas cor de rosa que só apareciam em Agosto no tempo das marés mortas ,depenicando nas margens do canal os moluscos indefesos,certamente magajosos ou aquele caranguejo miudinho. sempre a correr.Depois ,ao entardecer partiam em bando ,elegantes em voos abertos para outras paragens ,regressando no dia seguinte pelas tardes mornas.Uns vêm.outros se vão para não voltarem .Enfim ,experiências das infâncias perdidas.
Somos uma geração de intrusos com capítulos das nossas histórias .
Aproveita o mais que puderes .Faz uma reportagem de recuar no tempo onde desfilem pessoas,espaços com um pouco de nós.Não deixes morrer a criança que fomos.Será possível reconciliar o passado com o presente?

Maria ,filha do Mar Longe

terça-feira, 30 de março de 2010

Etna e a terra do mar longexxxII

Etna ia caminhando pelo paredão da praia.Reconstruia-se.Precisava do cheiro da maresia ,de sentir que estava viva liberta das grilhetas de outros tempos.Despreocupada.Como desejaria eternizar aqueles pontos de reencontro,detendo a marcha do tempo.Gozar a paz do esquecimento.Derepente parou.Aquele caminho trouxe-lhe a casa simples e humilde das infâncias.Estava tão envelhecida!exclamou Etna.Reparou que uma enorme mangueira espreitava pelo murocarregadinha de mangas a amadurecer.Muitos anos ali se vivera.~
Afastou-se .Foi dar um giro pela casuarina centenária sob cuja sombra rolaram horas a escutar as vozes do mar.Lá estavam restos de colunas deterioradas pela erosão dos tempos.Dizia-se serem restos mortais de uma capitania do porto.Subindo por um carreiro de areia ,chegou à pergola ,moribunda pela solidão e dos carinhos de restauro
-Lembras-te ,Etna Maria sempre pejada da criançada?E as mamanas atentas aos mais pequenitos naqueles carrinhos de bébé à inglesa?Apareceste na minha imaginação como uma galinha seguida dos teus pintainhos.Uma experiência humana sem inquietações nem sinais de um mundo em mudança.A árvore do canhi ainda lá estava mas sem o baloiço que só servia de zaragata entre as crianças.Seria que as crianças destes tempos já não gostavam de andar de baloiço?
A Etna pareceu ouvir vozes :
Vem ....não vás
olha o teu baloiço
céus ....bem as oiço

mas eu parto todos os dias,sem poder voltar atrás.
Tinha de passar ao lado de tempos da mesma forma que os barcos no alto mar que aguentam temporais.
O entardecer movimentava-se nas suas vestes em tons amarelados em que avermelhados se enroscavam deixando o castanho intrometer-se.Sentada em frente do que já fora uma prancha de saltos,Etna contemplava aquele pôr do sol mágico.Levava os destinos dos que partiram sem regresso.
-Sabes Etna Maria tive pena de náo ter pedido para entrar na casa das infâncias e ir ao encontro
dos degraus onde tu te sentavas a conversar com o josé ,apaixonado da tua mamana .Ladina .Eximia dançarina do batuque e bem requestada ,o que o punha alvoraçado de
ciúmes e inquietações.Lembras-te como definia a mulher?Shi ....menina ....mulher?Fala uma coisa ,sente outra e pensa outra.O poder e o mando não faziam parte do estar na vida da tua mamana...Era como se alguém a pisasse.E josé ali ficava com a cabeça entre as mãos .Estragava-a com mimos mas sabia bem que a tua mamana não era propriedade privada,nem ele josé o seu dono.
Olha ,Etna Maria cada dia que passa tornamo-nos numa lembrança .Já estamos no meio do nada.

Maria ,filha do Mar longe










terça-feira, 16 de março de 2010

Etna E A TERRA DO MAR LONGE




Subindo a ladeira da centenária Igreja ,peça rara pombalina de acordo com o que conta ,ostentava orgulhosa a torre sóbria com sinos cujas badaladas iam anunciando o dia a passar.Estava encerrada .Porquê?interreogava-se Etna.Onde estariam as imagens antiquérrimas?E os geneflexórios forrados a veludo e bem chapeados com os nomes de uma certa linhagem.Sim pq não era qualquer um que se podia dar ao luxo de ter ali lugar ,seria uma espécie de luta surda social.O povoléu misturava-se entre bancos com uma trave para se ajoelhar nos momentos mais especiais do momento de grande religiosidade.De um lado ficavam mulheres e crianças ,do outro ,homens e jovens-que época tão complicada como se o Deus de todos estivesse preocupado com a seleção humana na Sua casa.Devia ficar entrestecido e bem.


Deveria encerrar um espólio digno de um museu de arte sacra .Etna lembrava-se bem de muitas peças.


Como estava encerrada ,retomou o caminho do casario e ....uma surpresa ....a catedral n0va moderna ,cheia de luz ampla onde todos tinham o seu espaço especial.
Sabes ,Etna Maria assisti a uma homenagem à Padroeira .Imagina o que aconteceu no fim-um grupo de senhoras africanas sairam dos lugares e vieram para defronte do altar cantar e bater palmas e eu meti-me no grupo .Estava tão feliz com aquela partilha de cânticos de louvor.
Não esqueceu da inovação do coro criada pelo molungo das infâncias perdidas,onde as mães podiam ter as suas sananas mesmo a choringar pela mama que em baixo não se ouvia a barulheira.
Mãe África lembras-te ainda deste molungo com um rosto sempre fechado?Se já não te recordas tb não tem importância ,pertence já a gente sem história mas deixou para ti ,Mãe África um poema~
Se prisões e tribunais
os gestos e atitudes .
não pecassem por brutais~
Se capitães e generais
juristas e outros que tais
não se tornassem venais
Se fossem mais cordeais
E se as relaçoes enre os homens
Não parecessem animais
Não haveria -jamais
Tntas mortes ,tanto ódio
jamais....jamais....jamais,

Maria ,filha do Mar Longe





sexta-feira, 12 de março de 2010

Não calculas ,Etna Maria ,onde estive hoje pela manhã depois do matabicho na varanda aromatizada da Lisa.
Encontro-me no Jardim onde brincavas todas as tardes com as tuas amiguinhas a joguinhos que hoje já passaram ao mundo da Arqueologia.Tinha passado por lá pelo anoitecer .Fiquei surpreendida com a ausência da estátua do outro lado do Equador.Acabei por descobrir que jazia nas trazeiras de umas instalações mecânicas tendo como companhia a folhagem lixo.Talvêspara
esse lixo o transformar num semi -deus condenado a prisão perpétua.Uma carreira invejável.
Graduação divina-um homem dos mares que bem ou mal serviu um País .Agora ,inútil ,indigno até de um antiquário.
Não achas Etna Maria que frases ,nomes ,restos de letras enigmáticas cravadas em pedras,bustos estranhos como na ILHA DE PÁSCOA,POR EXPLO,são marcas portentosas de eventos históricos com marcas de tempos misteriosos de qualquer História.Suscitam raiva,rancores ,orgulho quer se queira quer não.Cofres de conjecturas.Raízes que ajudam a crescer ,a procurar rumos novos e compreender povos entre si.
-Que pena não estares aqui.
Sabes que aquela estátua esteve condenada ao mar.Depois de saber que lhe queriam dar este destino ,regressei a casa da Lisa matutando no sarcófago maritimo onde por pouco não a enfiaram.
M-mandar
A-acolher
R- regresso
Roída por estes pensamentos ,estuguei o passo e fechei o portão.
Acabamos por dar valor à memória afectiva das coisas pequenas mas grandes por dentro.
Tenho tanta pena daquela estátua ao relento da cacimba passeada por lagartichas,bogononos e escaravelhos ,Forma potencialmente nobre reduzido ao espectro de um fóssil sem estatuto.
Tenho igualmente pena das gerações vindouras ainda incapazes de valorizar a sua identidade
e não uma excentridade que dê geito ,

Maria ,filha do Mar Longe

sexta-feira, 5 de março de 2010

Etna e a terra do mar longe XXXI

IMAGINA ,ETNA MARIA ,ONDE ME ENCONTRO .NA LOJA DO DIVU.CASASADO.UMA MORENA TRANQUILA .DETERMINADA.DEBRUÇADA SOBRE OS AFAZERES ESCOLARES DO FILHOTE,
OLHANDO O DIVU ,DEI COMIGO A DIZER ,QUEM DIRIA VER DIVU CASADO E COM AQUELA SERENIDADE?!DEVE SER UMA MULHER DE FIBRA.
SABES AQUELA LOJA NEM PARECIA A DE OUTRORA.PERDERA AQUELE AR DE ARMAZÉM COM PRATELEIRAS SUPERLOTADAS DE CAIXAS SOBREPOSTAS,AQUELA LOJA OSTENTAVA A FISIONOMIA DE TEMPOS AREJADO-
NEM IMAGINAS COMO FICOU DIVU QDO ME VIU ENTRAR.RECONHECEU-ME DE IMEDIATO .CÉUS ,TANTOS ANOS E RENHECER-ME...
TRAVÁMOS UM CURTO DIÁLOGO.
É MESMO A D,ETNA NÃO É VERDADE?
SURPREENDIDO ?
DEPOIS DE TANTOS ANOS...
BEM ,O BOM FILHO A CASA VOLTA OU JÁ TE ESQUECESTE?
VEIO VISITAR A TERRA?
-VIM ANTES REVESITAR-ME
-QUE QUER DIZER?
-OLHA QUE É BEM DIFICIL
-AH!JÁ PERCEBI .VEIO REENCONTRAR-SE COM A TERRA E COM OS QUE POR CÁ ANDAM AINDA.MUITA GENTE PARTIU .
-ORA VÊS COMO ME REDESCOBRISTE.
CHOVERAM PERGUNTAS A CONCRETIZAR NOTICIAS CHEGADAS NO DIZ-SE ,CAVALGANDO ALAZÕES SORE NUVENS E MARES.CURIOSO.ATENTO.
GOSTEI DE CONVERSAR COM O DIVU.ABRAÇÁMO-NOS .SENTI NEESSE ABRAÇO O DESEJO DE UM FUTURO MELHOR
AINDA ESTIVE PARA PERGUNTAR PELO BATCHU QUE ANIMANVA A FILARMÓNICA
QUE PERCORRIA A CIDADE COMO ANÚNCIO DE ALGUM FERIADO .MAS PARA QUE DESENTERRAR QUEM DESCANSA A PAZ NALGUMA ESTRELA TÃO SIMPLES COMO O BATCHU?
DISSE-LHE QUE VOLTARIA PARA ME DESPEDIR.NÃO O FIZ.DIVU AINDA COM RESTOS DE MOÇO MAROTO QUE CONHECEMOS DE OLHAR TRAVESSO ,ERA O QUE RESTAVA DE UM TEMPO CONDENADO A NÃO VIVER MAIS.
NÃO VOLTEI,ETNA MARIA.NÃO TERIA CORAGEM PARA DIZER :ADEUS ATÉ SEMPRE
DÓI ESTE ATÉ SEMPRE .DIZ TUDO E NÃO DIZ NADA .
O AMANHÃ NINGUÉM O VIU ,NÃO CONCORADAS?
MARIA ,filha do Mar Longe

sábado, 27 de fevereiro de 2010

etNA E A TERRA DO Mar Longexxx

Na sombra dos teus silêncios

fiz dos meus dias
~ melodias.
Enviei-as para as estrelas
minhas mensageiras
de lágrimas em doridas grilhetas.
Nunca as ouviste choradas,
mas por elas mandei
meus medos de te perder.
Sei que um dia te vais de vez
e nem me vês
que sou ainda um ramo
da árvore da tua vida
tão longe de ti vivida?
mas ao ser podada
ainda que desamada
voltarei inteira
em paz com a minha cegueira.




Maria ,filha do Mar Longe

etna e a terra do Mar longe xxix

Querida Etna
Obrigada por este ar de alegria e triunfo com que voltas nas tuas cartas,sem revoltas nem saudades do além Equador mas carinho pela cacimba bem fria,o mar ora ora plano ora encrespado o céu sempre azul ,enfim o nosso mundo que embora pequeno é tao rico por dentro pela sua grandeza de vidas que se cruzaram connosco.
São olhos com imagens de outras paragens ainda nossas apesar do ostracismo a que nos têm votado.Quem afirmar o contrário apenas pretende ostentar um perfil que não passa de um triste show off,de uma vida fácil que cada um escolheu como sendo um caminho
Toda a minha vida tem sido um percurso sempre tecido por sonhos inacabados ou caminhos projectados que nunca foram construidos .Ficaram pelos alicerces.Por isso,guardo a nostalgia vergada pela impediosamente pelo que poderia ter sido feito e acabou por ficar pela autoestrada da vida ,sob o peso da resignação resguardada por actos disfarçadamente tranquilos.
Tanto assim que,ao dobrar a curva descendente da vida,estou a ser marcada por um amor oculto .feito de suspiros,temores,bem como de um tempo já sem tempo que me faz tremer e cerrar os lábios de raiva.
Sabes bem como Tiago tem sido especial,tornando-se parte da minha alma ,mas sempre inacessivel ao âmago do meu ser.Personifica o meu Everest.Sbes porquê?Porque no cume está a familia ,parte integrante de si próprio.Um homem de extremos.No cume ,a inacessibilidade a um espaço onde eu pudesse vogar para o seu mundo aliviada e deslumbrada.No sopé a corça ferida a precisar do abrigo para sarar as feridas da interdição ao cume do seu ser.
O Silêncio da distância traz-me a dor que levaste como um pesadelo ,como se me pisassem .Não passo de deixar que a estadia no outro lado do Equador me cuspa e passe indiferente dominando a minha vida como um fantasma.Preciso do meu espaço liberto do medo de o perder para não envenenar a minha casa interior.
Sensível como és ,já percebeste que a tua Etna Maria não é mais do que uma cana de açucar cambaleando pela catanada feroz de mais um sonho inacabado.
abraça-te a tua irmã
Etna Maria
Maria,filha do Mar Longe.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Quem me liberta das memórias com histórias e fantasias das coisas pequenas mas grandes por dentro?

Quem me habita na solidão vadia ?Ah!São as estrelas que esquecem

as dores

amores

lágrimas

saudades

sonhos

partidas
Como seriam os momentossem as estrelas para lhes confidenciar a mágoa baleada pela ausência da carinho e da ternura?olho-as embevecida em silêncio para ver a luz profunda
que delas emana e assim vou vivendo dialogando-me .Nas estrelas deixo a saudade e o desejo
de ser levada para muito longe.
Saudosa da tua ternura e abraços que nunca mais vou ter ,mas sempre pensando em ti e juntos somos então um só .Tu és único para mim e os dias deixam de ser tempestades ,repletos de nadas.
Maria ,filha do MAR lONGE.













lágrimas

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

etna e a terra do Mar Longe XXVIII


Etna paulatinamente aproximou-se do que fora pertença dos Pais.O passado presentificado.Avançou pela relva esmorecida.Abeirou-se dos que trabalhavam à volta de carros entre pneus espalhados ao acaso .Jovens a praticar um futuro.Apareceu inesperadamente o velho gonçalo.Espantou os olhos.
Exclamou-sinhora piqueno!shiiiiiiiiiiiiii
-É verdade-respondeu Etna abraçando aquele velho ,restos do mundo das infâncias distantes
-Mininos?maningue neto?Aqui falar sinhora grande morreu.maningue doente.....sinhora piqueno sofrer maningue....ishhhhhhhhhhh
Gonçalo,espera aí.....deixa sentar aqui....depois falar tudo....
Gonçalo ,atento,de pé não perdia pitada do que ouvia.
Sabes ,Etna Maria quem devia estar aqui eras tu para ouvires ish...ish...faz favor...
cliques ruidosos...uhm....uhm...acompanhados do menear de cabeça vezes sem conta,acompanhados de encolher de ombros.
Eu não podia falar dos mininos e da minina de uma só vez .Por momentos vi lágrimas pequeninas e os braços caídos como folhas ao vento.
Tu e eu eramos memórias de um tempo da memória da Terra do MAR lONGE.
Mais de uma hora ,Etna esteve sentada no patamar das bombas de gasolina envelhecidas pela corrusão da aragem chuvosa,bulabulando,gargalhando com as diabruras dos mininos,os gansos abatidos com uma pressão de ar,as gemadas dadas ao piloto enfim um não acabar de memórias....entre shiiiiiiiii aqueles mininos ....Etna consciente de um partir certamente sem volta ,levantou-se ,segurando as mãos secas e mirradas ,abraçou e disfarçadamente afastou-se para sedespedir do pássaro azul ,o jipão ,com um volante de machibombo com que se faia rolar para a praia das maresias suaves e frescas.Recordou num ápice as infâncias distantes numa grande algazarra.Foi quando teve a consciência como ultrapassara perdas irreparáveis,medos,dores,sonhos,projectos,lágrimas.
Continuava afinal um ser a olhar a vida com as cores do arco iris.
Espreitou por tudo que era sitio.A limalha cobria o chão.As parede conviviam com o silèncio de tinta e pincel.O cheiro a óleo transpirava os ares.Sucata pelos cantos.
-Etna Maria,ter-te -ia feito bem veres o que foi pertença nossa.Chagas aqui encontradas sarariam feridas por cicatrizar.Abrir-se ia uma janela e a aragem da maresia desmantelava os fios do teu casulo.
Maria,filha do Mar Longe

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ettna e a terra do Mar longe

Ainda me lembro como o empurravas na banheira de zinco à laia de bote ,no quyintal inundado pelas águas das chuvase até te esquecias das matacanhas e filária.A tua única preocupação era ve-lo feliz gargalhado ou batendo palmas.
Entraste no carro magoada e ferida numa amizade que afinal ,era um mito.Nunca existiu.Soluçavas.Percebeste que te tinham apontado a porta da rua do rumo para o outro lado do Equador.
Parei diante daquela vivenda.Mirei o portão ladeado por dois portentosos e soberbos dendigueiros.Não me demorei .Aaltivez da varanda despedia-me .Descaminhei-me.Enxarquei-me de episódios ruins.Tal como o vento tudo traz também tudo leva.Etna Maria,não vale a pena
revivê-los.
Entrou na Avenida recheada de secreta intimidade.As acácias franzinas ,algumas bem cocoanas
repovoaram-na de perguntas.Etna desfez tanta curiosidade.Contou,recontou,carpiu-se ,descarpiu-se.Vinha de longe.Uma terra de sorrisos sonâmbulos,habitados em elevadores num corropio de sobe e desce ,a transpirar um desiquilibrio interior urdido pelas ralações que sustentam o quotidiano.A monotonia maneira de encarar a vida com chuva,frio,vento,indiferença,o corre corre sem um sorriso.
Ah!exclamaram surpresas e atentas.Foi por isso que voltaste?
-Claro!Vim à procura de uns tempos sem fadiga.
-Quer dizer,não conseguiste desabitar-te-comentaram a rir
Vim desafadigar-me.Respirar o humanismo deste céu sempre sorridente de azul,do pôr do sol mesclado de cores quentes até partir para outras paragens,bulablar com a voz da maresia que também me pertence.
-Tanta saudade Etna.Vens afinal á procura de tiprópria
-Talvez.Bem já bulablei com vocês,tenho muito para revesitar.
-Vai,Tens muito para reencontrar no silêncio,também uma forma desentir,pensar e venerar.
Não te deaproximes do que foi teu,nem te desastebilizes por não reencontrares a torangeira,desenterrada ,soterrada em cinzas com as memórias das tuas infâncias irrequietas e turbulentas.
-Deixo-vos as saudades já cansadas.Levem-nas com os ventos das monções para o cosmo para descansarem com serenidade.

Maria ,filha do Mar Longe

Etna e a terra do mar longeXXVII

Etna encolheu os ombrosNão podia fazer nada Esforçara-se por reflectir sobre Etna Maria.Muitas mulheres dos entas sonham com alguém que as descubram como amigas e sensuais,companheiras.Mas ninguém possui ninguém e Etna Maria teria de fazer a sua opção para se sentir livre e não ser magoada.Comportava-se como uma colegial,simplesmente teria sempre o paralelo 38 entre ambos.A vida familiar era pontuada por inúmeras situações de ausências e o constrangimento persistiria .Era o preço que teria de pagar pela sua loucura.
Etna pôs os óculos ,a luminosidade chamou a atenção da Alfândega ,fechada .Devia estar entrestecida .Era a morte anunciada.Não admira ,estava vazia de afazeres.Um mono numa esquina apetecível.
Etna sentia-se deleitada por poder vaguear por aquela avenida das infâncias criadas ao sol e ao vento.Estava bem disposta mas,de repente cruzou-se acidentalmente com a vivenda de varanda enorme ,arejada ,ampla com cadeiras e mesas sempre com gentes conversando à gargalhada.
Era do teu amigo ,Etna Maria,amigo que foi e deixou de o ser com a mudança dos tempos da História.
Certamente que ainda te lembras do que te disse quando te aproximaste do grupo em que estava e mal te viu próxima :ó branca ordinária quando te vais embora?Num abrir e fechar de olhos tal pergunta cortou as asas dos teus sonhos de africana.Fervias de indignação.Parecias um vulccão em erupção.Palavras coléricas irromperamlavas incandescentes do âmago do teu ser africano.
Passados tantos anos consigo rir.Se calhar ,na altura ,julgava-se já parte do novo poder.Era bem a experiênciaantecipada igualmente inútil.Um vaso quebradoem cacos estilhaçados.
Etna Maria,segundo dizem,quando por aqui aparece,passeia a barriga luzidia já obesapela praia por onde as tuas infâncias brincavam em correrias pelo sol e pelos ventos sem medos.
Pelo menos faz de conta o que a brisa dos mares do outro lado do Equador lhe confidencia.Prantos de tumbas ,floridas de tantos que hoje são ninguém.
Maria ,filha do Mar Longe

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tiago sabia que não havia mais ninguém naquele coração .Como tb sabia que Etna Maria era um fruto proibido.Partia ,talvez pela última vez.Etna Maria sentia que a partida estava próxima.Uma noite o telefone reteniu .Acorreu.Levantou o auscultador e ouviu apenas:parto amanhã.Palavras que serviram para a sua inquietação interior se desfizesse em imagens e momentos que só a ela pertenciam.Encorajando-se foi ao aeroporto.Viram-se de longe .Por momentos sentiu-se como uma gaivota ferida vinda de longe do sentimento da solidão qdo afinal queria apenas amor.
Tiago por momentos ficou indeciso .Doeu-lhe a melancolia do ambiente.A familia estava ali como parte integrante da sua vida.Era como se fossem a Coreia do Norte e a Coreia do Sul separados pelo paralelo 38.Por isso,talvez levava consigo a recordação de um sorriso tímido.Etna limitava-se a olhar aquele rosto para se consolar nos dias vindouros.
Como quereria dizer-lhe desde que me aprisionaste com a doçura dos teus beijos fizeste da minha vida um oasis em pleno deserto.Fizeste emergir o fogo lunar na nossa história que mal acredito que vivemos juntos uma dádiva inesperada da vida.
Um nó na garganta ,engolia histórias vividas ,agor a emoção caia na lágrima furtiva ,na distância
que tudo dissipa .Restará a saudade prolongada pelo desespero.Repousaria eterna no cofre forte do coração.
Maria,filha do Mar Longe

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Etna e a Terra do Mar Longe xxvi

~Sempre estava com Tiago ,Etna Maria sabia qto era amada e desejada .Apenas queriam estar um com o outro e com os seus sentimentos .Nem precisavamde palavras.Saiam.Beijavam-se com ternura e paixão pelo jardim aromatizado.Ao despi-la pela primeira vez Tiago deu-se conta de quanto estava faminto dela.
Tiago ausentara-se .Etna Maria tentou esvaziar-se daquela repentina e assustadora paixão.Reconhecia ,contudo,que Tiago só queria a ela,e Etna Maria só queria a ele.Faziam amor.Deitados nos braços um do outro ,saciados e tranquilos.Pairava naquele mundo pequeno a quietude de uma paixão saciada.
Num dado momento de euforia amorosaTiago olhando Etna Maria disse:Etna ,para mim ,serás apenas Maria,a minha doce princesa.
-Sério?és um tonto respondendo gargalhando
Etna quis saber o motivo de ser apenas Maria.
Presta atenção ao que vou dizer-te:
M-maresia
A-amor/paixão
r-rima /poesia
i-Iara /mãe de água /deusa poderosa
A-Amenidade
Os sons das letras são suaves .Tu és um poema de amor e carinho.Para todas as letras encontrei o meu significado.És maresia,amor,paixão,poesia,a deusa das águas profundas,afável,terna.
Tiago,por favor não me subestimesSou apenas mulher-respondeu Etna Maria,enroscando-se como uma serpente a Tiago escaldante de paixão.Riram-se.Nunca falavaam no futuro.Viviam o presente apenas ,cada hora,cada minuto,cada segundo como trémulos astros ,a realidade de si próprios.
Maria,filha do Mar Longe

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Etna e a terra do mar longe xxv

Qdo Tiago levava tempo a aparecer ,a casa enchia-se de um silêncio atroz.Em frente do computador a atenção atrofiava-se .Perdia os pensamentos no Tiago.Etna Maria já não tinha idade nem para um te nem para um ti.Recordava o encontro no restaurante.Foram momentos que revoltearam a vida.Dentro do seu imaginário ,sucediam-se cenários de intimidade ,sedentos,esfomeados,pronta a arriscar-se para não perdê-lo.Não esquecia a postura de quem viajava muito,óculos verdes que escondiam olhos castanhos percrustadores.Estaturamais do que mediana.Um colete de ganga à desportiva ,sob o qual um corpo sem barriga.Cabelos já grisalhos ,Um sorriso entreaberto se calhar para cativar o lugar vago na mesa.
Etna Maria sempre cativante .Destacava-se onde estivesse pelo sorriso que projectava nos olhos a sua força interior.Cabelos alourados que escondiam fios grisalhos que detestava.Calma,sorrindo ligeiramente acedeu a que se sentasse à sua mesa.
A partir desse encontro ,outros encontros se sucederam aqui,ali,acolá para conversar sobre as terras do Mar Longe.Havia laços comuns desde as gentes com hábitos e costumes bem diferentes,a solidão ,as disparidades entre os habitantes até à vida de cada um
Lentamente foram aproximando-se cada vez mais com um coompanheirismo atrativo.
As mãos tocaram-se ,os olhares cruzaram-se de cumplicidade afectiva

Maria,filha do Mar Longe.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Etna e a terra do Mar Longe xxIV







Etna procurou os correios para telefonar para Etna Maria.Olhou a escadaria bem espaçosa subdividida em patamares amplos .O edificio pintado de cor de rosa e branco dava-lhe um toque de uma orquidea fora da estufa.O sol africano com um olhar sobranceiro vigiava atentamente



o vaivem do trabalho da mulher sem parar a caminho do bazar carregada que nem uma burra de carga ,o filho pequenito às costas aconchegado pela capulana e o ritmo dos passos da mãe com uma carrada de produtos à cabeça. sempre consciente da subsistência do lar.



Ao entrar ,Etna sentiu o coração apertado.Asolidão vagueava pelo balcão de atendimento dos tempos de menina.A timidez desconfiada do funcionário encurralara Etna num hipotético diálogo



Nem uma palavra de cordealidade que mais não fosse para matar a curiosidade.Olhos frios e bem distantes.
Etna apressou-se a descer a escadaria sem uma beliscadura dos tempos e já tantos passados.
Sentou-se à sombra de uma acácia enfezada mas servia de defesa do calor .
Pensava na conversa ao telefone.Etna Maria e tiago conheceram-se acidentalmente num restaurante.Como havia um lugar vago na mesa de Etna Maria ,pediu para se sentar.Conversaram banalidades.O tempo.A profissão .Os hobbies.A carestia da vida.Até que
paises do outro lado do Equador entraram nas conversas.Assim se descobriram pertença de terras do Mar longe.Empatia desabrochou amizadee esta abriu portas a uma relação poderosa.
Demasiado grande para morrer.Uma vida sem tiago não era imaginável
Maria,filha do Mar Longe












segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Etna e a terra do mar longe xxIII


Todos os dias ,Etna estava sempre em algures.A mente e o coração demasiados preenchidos com retalhos do saber perdera pertença familiar.Achava ,ela própria que regressava do mundo dos que já tinham partido.
Ao longo da marginal sorria para as casuarinas centenárias ,altivas viradas para o mar .As bolotas espinhadas caiam ao sabor dos ventos.Rebolavam acabando por cair nos trilhos esburacados dos passeios já tropegos.Etna vagueava pelo paredão com as sandálias a tiracolo desfrutava a maresia matutina.Como estava tão longe de qualquer filosofia de vida.Sentia um bem estar jamais adiado por aqueles espaços que calcurriava sempre que podia.Outros espaços a espeeravam
A dado momento aproximou-se em passo de gata manhosa da velha mesquita.Lá estava o velho trinco dos tempos de menina.Uma aldraba t ão centenária como a porta que segurava os anos dos tempos ecoados de um passado longinquo .1840 com um corão de 340 anos.Os sapatos arrumadinhos em fila indiana no páteo asseado.
Espreitou.Num ápice afastou-se não fosse ser surpreendida por algum crente mais hostil.
Etna Maria adivinha onde estou.Bem sentadinha no banco de cimento a meio comprimento do muro altíssimo onde tu lias livros de histórias que te emprestavam com condição de o fazeres enquanto corria o almoço .Etu adoravas os contos dos irmãos Grimm...qtas vezes ,Etna Maria ...A quelas histórias fascinavam-te e de que maneira.Entre ti e os teus amigos
havia sempre um livro com histórias de encantar.Era o teu mundo.Viajavas no teuCom Pégaso fugindo do labirinto limitado da vida dos Pais .Recriavas personagens com toda a familiaridade .Acompanharam-te sempre e projectaram.-se na vida servindo- o teu mundo para encantar os infâncias criadas ao sol e ao vento.
Hoje o passado é um mapa pendurado no seu casulo,como um troféu
Etna recordou as travessuras de Etna MariaAs pedras atiradas aos sapatos desalinhando-osAdoraria ver os crentes andarem à procura do par.E o episódio do leitão?Entraste no quintal da vizinha.Apanhaste o leitãozito.Abafaste-lo com uma toalha depois amarraste o focinho embora esperneasse.Com o focinho bem aperreado para não fazer muito barulho,atiraste-lo para o patamar e fechaste a mesquita com a aldraba ...céus ...foi uma algazarra inesquicível.
Berros,gritos ,vassouradas...enfim um fim do mundo.
-Ai Etna Maria ,o que foste fazer.Que sacrilégio!Custou-te bem caro.O Haj descobriu-te como autora da proeza .Valeu-te um tareão.Como sentença ,durante nove luas ,foi-te interdita a passagem pelo passeio da mesquita.Episódio incrivelmente rocombolesco.
Lembras-te dos baldes da água do mar pela meia noite para desacralizar o espaço religioso?
O que teria acontecido aos sapatos com tanta vassourada?Não sei e tu ?Certamente também não.Francamente ...um lugar de culto.
Sabes,agora a mesquita prima pela cor ,cor de rosa com os caracteres em branco bem nitidono frontespecio.Quem diria 1824 e um Corão de 348 anos no interior ,zelosamente guardado,num santuário artisticamente trabalhado.
E nós que pensamos que os filhos de Allah são cobras e lacraus do deserto,qdo afinal tb oram ao Deus de todos.
Maria,filha do Mar Longe
Etna

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Etna e a terra do Mar Longe xx2

ETNA e a Terra do Mar Longe

Recebi a tua carta .Emocionei-me por me trazeres de volta tantas pertenças da nossa meninice galopando a toda a brida.Fiquei radiante por saber que o xitimela está bem cuidado ,todo pintadinho de branco prateado e em exposição bem à vista .Um rei de um reino já
desfeito.Ironia do destino ,orgulhosamente só.Um marco histórico.
Vi-nos às sextas feiras no bulício da velha e atroseada ponte como pude deduzir do teu encontro
com os pilares que a sustentam .Vaivens carregados de amendoins ,camarão seco,fiadas de cana do açúcar ,paus de melala,baciazinhas de esmalte recheadas de montinhos de castanha de caju açucarados ,mandioca pilada ou braçadas de mandioca ,tiradas fresquinhas da terra.O tempo passou mas ficou-nos a sede dos tempos da memória.
As luzes do portaló enchem de colorido as recordações .Ainda me lembro de ver os passos de rainha das candidatas a sonhos de um casamento com uma farda branca e um porte princepesco a fazer as honras da sala para um jantar requintado marcado por uma excelente etiqueta.não era todos os dias que se deliciava com tais mordomias ao som de música de fundo.Por uma noite eram rainhas de um reino inimaginável em vestidos de organza agodesados.Que será feito dessas
Cinderelas africanas?Teria encontrado o seu príncepe encantado sob a batuta de uma valsa de Strauss?Ou ao ritmo de um tango?
Do Tiago nada posso dizer.já muitas luas vieram ,com luares vazios do seu rosto enternecido por esta Iara ,a sua deusa das águas profundas,a princesa de um amor tardio.A distância telefona-me de tempos a tempos,Diz me para não preocupar-me.O entendimento entre etnias diferentes vai
andando devagar,mas um poço de água criou um ambiente de partilha.O pior são os hidejackers
Ceifam almas viventes convencidos que aniquilam o espirito,reduzindo-os ao barro de que somos feitos.
Como sabes ,o Tiago vive um mundo visionário,Acredita quenão será preciso destruir flores ,mas gerar um mínimo de convivência entre canteiros para se chegar à paz.
Curou-me feridas ,sarou-me mágoas,Ensinou-me o afecto e tb a liberdade de me sentir bem em estar com.
Maria,filha do Mar Longe

etna e a terra do mar longe

Etna sentia-pena dos navios que nunca mais voltaram .Andando pela muralha de suporte à invasão das marés cheias que furiosas embatiam contra aquela amurada,confrontava-se com as suas raízes.Faziam dela uma viajante que a levavam a uma navegação solitária.De repente sacudiu o cansaço .Etna Maria regressava a estar com ela.
Lembras-te das noites de sextA-feira?´´Á noite ,mocinhas casadoras ,sofisticamente vestidas e maquilhadas ,com estolas de arminho e sapatos de salto alto vinham airosas para a ceia ,conversar com os fardados de branco ,ouvir música até altas horas da madrugada na esperança de despertar algum coração mais solitário.
Subiam o portaló com uma empáfia que em nós ,miúdas causava um impacto de admiração .
Tornavam-nos mais pequeninas na escala social.Suspirávamos .Sonhávamos com um dia em que já senhorinhas ,tb iriamos ali cear.Admiradas.Galanteadas pelo comandante ,imediato,enfim por todo o escol de membros de bordo.
Tu partiste para o outro lado do Equador.Qdo regressaste ,eras uma jovem que pertencia a résteas de um imaginário que teima em presentificar-se eternamente .

Maria,filha do Mar Longe

``A BEIRA RIO

Sentei-me à beira do rio,aí esperei a tua imagem .O rio qdo me viu carpiu as dores que me escorraça de ti.Compadecido às ninfas dos rios confidenciou as minhas mágoas tecidas na solidão ,meu desajuste interior de que me faz prisioneira e as ninfas comovidas pela minha espera em vão ,bem distante consolavam-me .Sabiam bem que aquela imagem jamais seria de um dia ,como uma madrugada lavada em lágrimas .Na verdade foste sempre um dia qualquer ,
um vazio sem fim,sempre vazio de afecto e do prazer de estar bem com.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

etna e a terra do mar longexxI


ETNA MARIA
LEMBRAS-TE DAS SEXTAS FEIRAS E DOS NAVIOS ANCORADOS NA PONTE DE CAIS?ESTA PRECIOSIDADE POR CÁ CONTINUA ,COM UMAS MAZELAS JÁ BEM VISÍVEIS ,SONHANDO QUE A EXISTÊNCIA NÃO SEJA BREVE.lEMBRASTE COMO ESTES NAVIOS ALTERAVAM A PACATEZ NOCTURNA DA PONTE DE CAIS?
a MIUDAGEM ACORRIA PARA VER DE PERTO A ACTUAÇÃO DO CONTRA MESTRE.A BORDO DO NAVIO PEGAVA NO CABO COM PUNHO DE RETINIDA.NA OUTRA PONTA DO CABO DA RETINIDA AMARRAVA O OLHAL ,RODAVA A PINHA ATÉ TER UMA CERTA VELOCIDADE PARA CHEGAR AO CAIS .QUEM ESTIVESSE NO OUTRO LADO DO CAIS PUXAVA PELA AMARRA DA RETINIDA ,PEGAVA NO OLHAL E ENFIAVA NO CABEÇO PUXANDO O NAVIO PELAS AMARRAS COM O AUXILIO DO CABRESTANTE .ENTÃO É QUE ERA UMA EXPLOSÃO DE ALEGRIA.uMA OVAÇÃO DE PALMAS COM PULOS DE APLAUSO.
O NAVIO ATRACADO ,ERA VER CENTENAS DE MAGAIÇAS EM LARGAS PASSADAS DIRIGIREM-SE AOS CAMINHOS DE FERRO ,PARANDO AQUI OU ALI PARA COMPRAR
QUE COMER COMO PARA MITIGAR O SILÊNCIO DOS BALANÇOS A BORDO E APRESSAREM O PASSO PARA O XITIMELA QUE A TODO O VAPOR DAS CALDEIRAS FUMEGAVA NO MEIO DE CONSTANTES UH...UH...UH....UH....
jÁ NÃO PASSAVAM POR CARREIROS ENCALHADOS EM ARBUSTOS E RÃS.A AVENIDA
FORA TRANSFORMADA NUMA VIA ALCATROADA COM PASSEIOS DE MIMOSEIRAS AMARELINHAS.cARROS E GENTES DAS MAIS VARIADAS TERRAS NÃO PARAVAM.
PARECIA UM DIA DE FEIRA.
sABES ETNA MARIA ,OS NAVIOS SE FORAM PARA NUNCA MAIS VOLTAREM.E A PONTE DE CAIS CONTINUA NO SEU PAPEL DE SERVIR DE MEIO DE COMUNICAÇÃO. SE FEITA NA DÉCADA DE VINTE PELOS MACHAMBEIROS COM RECURSO AO XIUAUAU ,se verdade ou não .O QUE INTERESSA É TER FICADO À DISPOSIÇÃO DO POVO LUTADOR ,SOBRETUDO A MULHER. QUE NÃO PÁRA.O XITIMELA ESTÁ ESTIMADO ,PINTADO DE BRANCO PRATEADO NUM ESPAÇO DOS CAMINHOS DE FERRO COMO PEÇA DE MUSEU.TIREI FOTOS E ENCONTREI GENTE CONHECIDA SURPREENDIDA PELA MINHA PRESENÇA E AS FOTOS.PQ HAVIA DE IGNORAR AQUELA PRECIOSIDADE?ÁGUAS PASSADAS NÃO MOEM MOINHO E É BEM VERDADE.fICOU-SE POR MOMENTOS NA BULABULA .FALOU-SE DE TUDO UM POUCO.VI-OS FELIZES ,ALIVIADOS DE UMA ÉPOCA EM QUE NÃO ERA FÁCIL SER ASSIMILADO PARA SER INTEGRADO NA SOCIEDADE.GRANDE BIZARRIA,MAS EXISTIU POR MUITO TEMPO O QUE CHOCAVA SERIAMENTE.AGORA JÁ SE PODIA RESPIRAR A LIBERDADE.
TUA IRMÃ
MARIA ,FILHA DO MAR LONGE