sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

terra do Mar Longe VI

A memória,afinal,não era assim tão curta.A dura realidade rural,a da criada de servir a soldo miserável,a tempo intero sem direitos à dignidade humana como trapos para
todo o serviço iria emergir da bruma dos tempos da memória tempos em silêncio.Ficaria para trás o calor ,os mosquitos nos sítios mais reconditos do mato ,a cantina sempre povoada de africanos que se empenhavam com as latas de castanha de caju levando para a sua tombazana uma capulana multicor para ela dengosa oferecer os seios e os braços nus e numa voz humana e doce dizer "eu dou-te o paraiso"
O que aquele sol não sabia!A experiência de navegador universal pelos sete céus valia-lhe de muito.Deveria ter ficado a meditar como a Vida é uma batalha enorme onde uns perdem e outros ganham,mas naquele momento a ignorãncia do momento
aturdia o afã dos que partiam.Tinha-se perdido a liberdade de se ser quem se julgava
ter sido sempre.O aqui já não existia,o agora não tinhs limites de espécie alguma.
Nesse agora haveria que desafiar os deuses volúveis para quedessem outro significado ao regresso ás casas de infâncias para não se encetar um vida com medo.
Acaso àqueles novos albinos ter.se-ia varrido da memória os montes escarpados,os vales aninhados de verde,os campos desertificados?Se calhar já nem se lembravam
das cozinhas toscas,palheiros moribundos por onde se enroscavam ervas daninhas,esconderijos recatados tendo como inquilinos lagartichas encobertos pelo
musgo arrepiado pelas geadas enregeladas.
Terras esquecidas abandonadas ao tojo.Estábulos semidecapitados envelhecidos pela
senelidade dos velhos prorietários já cansados daquele viver na solidão dos tempos e dos espaços.Há muito que os tamancos lamacentos,os botins enlameados,a charrua enfurrejada,o candeeiro trémulo de azeite pendurado num prego num barrote bolorento a servir de prateleira ,as paredes rugosas,sombrias pela fumaça do fogareiro,caminhos escalavrados temidos pela lama invernosa sentiam a necessidade
do afecto humano,do homem ao encontro do homem e do ecoar de vozes´mais além
o carro dos bois frustrados de tão longa inércia e a pocilga tresandando a fetidez anoiteciam na terra que os despiu do poder de servir.
Maria-filha do Mar Longe.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Terra do Mar Longe V

Etna deu-se conta de que o azul daquele céu já respirava memórias do outro lado do
Equador para onde se dirigiam os novos albinos.Aventureiros sem rota definida.Paisagem humana.Andariam de um lado para o outro à procura de um lugar onde pudessem descansar humilhações e amarguras.Ou instalar.se-iam em espaços de um passado longinquo habitado por rostos familiares .Uma tentativa de recuperar a vida aburguesada trazida a reboque do antigamente.
A memória é como uma câmara escura.Flashes repentinos iluminaram aquele presente de Etna.Desfilaram retalhos de infância,adolescências de líbidos recalcados,jogos de sedução escondidos para se manter incólumes éticas preconceituosas,autenticas portas abertas a vidas sem projectos,mas vivenciando amores da cor de ébano fechados a sete chaves no coração.Ainda hoje os revivem quando a solidão vem visitar como inclemente maldição.
Etna olhou pela última vez os coqueiros altaneiros,os cajueiros coloridos de seios africanos,pomos de nectar já voluptosamente atrevidos.
Mufanas e moleques encostados ao gradeamento de controlo do embarque apreciavam inexpessivamente aquele agitado reboliço dos novos albinos.As memórias de um passado em redemoinho despertara memórias.Iam despir-se de ressaibos passadiços que fantasiaram linhagens mistificadas numa ascendência brasonada.Porém montes e vales,rebanhos de cabras criadas ao relento,tiritando de frio,balindo pela imensidão das terras eram outra imagem do mundo.Molhos de lenhapara cozer o pão,crepitar a lareira ou fumar os enchidos,na falta de outro peguilho para aconchegar o estomago dava a nostalgia de um mundo que só existiria
com resignação dentro de cada um envolvido pelo vento das monções.
Maria-filha do Mar Longe

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

terra do Mar Longe IV

Ninguém tinha consciência de como tudo seria alterado.Esse tudo implicaria
aprender a ter outro tipo de coragem para evitar que a vida se transformasse num
inferno.Claro que seria inevitável o aparecimento de muitos Zé Ninguém,como também muitos LULUS a sacudir a cauda constantemente.Não faltariam lambebotas,servis,dependentes,corteses,ousados,viracasacas e até molúrias tipo magajojos,insignificantes,mas prestativos,mas incomodativos pela gelatina de que se revestemquando espezinhadosCriaturinhas nojentas.Muitos levariam tempo a esquecer as patranhas deitadas ao vento,clamando uma ascendência que
afinal residia nos molhos de lenha à cabeça ,mas ao passarem o Equador tudo ficara coado.Em contrapartida ,choveriam as gabarolices de um nível de vida reverenciado pela criadagem ,um passado pintado com as cores do arco iris.Mal se davam conta de que ficariam limitados à condição de forasteiros na terra dos antepassados.Estranha condição humana.Nem imigrantes seriam.Gente diferente.Um subproduto social.
Naquele momento ,aquela Africa ,maternal,castrava nas suas entranhas,a sua maternidade humanista.Aquela terra africana como todas as terrs africanas têm
bosques,florestas,clareiras,matagais,savanas sedentas de vida verdejante.Parem segredos ,mistérios,paixões com a cumplicidade da noite,cóleras,enquanto os sotiçôs de Agar vagueiam em liberdade quer pelos becos encaniçados,quer pelas margens das águas como guardiões da era promissora que se avizinhava.
Maria -filha do Mar Longe.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

terra do Mar Longe-III

Respirava-se uma nova era,sem contornos,nem linhas definidas e muito menos sem a capacidade de aguarelizar o futuro em tons quentes e esfusiantes.
Os que insistiam em não arredar pé comportavam-se como meros espectadores.Era como se estivessem instalados num camarote de um teatro,refastelados em almofadas aveludadas de vermelho arrematadas a dourado.Parecia que assistiam a uma peça burlesca ou melhor ainda a cenas hipotéticas ,grotescas ou caricatas de alguma ópera que conheciam de ouvir falar.Não entendiam correctamente o enredo porque a encenação era de gestos ,correrias,vozes alteradas,gritantes,desconexas.
Etna jamais esqueceria essa tarde como a pelicula de um filme constantemente em rodagem na retina por anos ininterruptos.Sabia de cor a sequência das cenas.Conhecia pormenores de cada uma delas.Reencarnariam como sementes do passado com a missão de tornarem a nova época bonita num manto de esperança,bloqueando forças nocivas e dispersando as energias negativas da História
dos Homens.Quando morresse ,Etna seria uma morta sem sossego.Voltaria para reviver naquele espaço que lhe era castrado apenas por causa da cor da pele.Seria então feliz.voltava andar descalça,saltar os muros das nunus da esquina e deitada na esteira lambuzar-se de linfete ou bolinhos de coco ou fisgar as galagalas de cabeça azul.
Embora hajam momentos que dóiem muito,estes arrastam o eco da sobrevivência.Por isso,a Etna restava-lhe apenas caminhar de olhos vendadoscomo que à beira de um abismo e neutralizar obstáculos para não produzir mais estragos na
sua alma.Só Deus sabia como afinal todos estavam com os nervos em franja.
Quer os que ficavam,quer os que partiam nem imagiinavam as surpresas que o amanhã ,o depois de amanhã entrariam pela casa a dentro,ora felizes,ou traiçoeiras,
subtis,engenhosas.Poriam à prova a capacidade de reconstruir o novo homem como
cidadão com novos objectivos e capaz de gerar novos seres.
Maria -filha do Mar Longe

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

quem sou

Sou apenas um poema
de versos soltos ao vento
sem sequer um lamento
talvez mesmo um fonema
dito sem tempo.

fui pétala duma Flor
de tons ,lindas cores
Hoje vagueio ao sabor
de gratas ,ternas lembranças
para os sitios onde for
já sem aromas...odores.

Sou complicada metáfora
sem me saber decifrar.
Sou talvez uma melodia
que se ouve na maresia
luz sem cor e sem calor
pela palidez do dia.

Porém.ao amanhecer
sou talvez ainda magia
e pelo anoitecer
sou uma sereia infeliz
ou uma árvore triste
já com uma velha raiz.

Meu nome?o que quisserem dar.
Sou apenas um Eu
já não tem nada de seu
um poema por acabar.

Maria,filha do Mar longe

quem sou?


Eu sou
fragmento de um tempo
que já passou..
O presente,um momento
que fez de mim
assim como sou
gaivota ao sol
e pensamento do vento.
maria ,filha do Mar Longe.

A Terra do Mar Longe

Aquele céu sempre tão límpidamente azul,apesar de,por vezes,se cobrir de nuvens coléricas ,em avalanche na época das chuvas,assistia estupefacto àquela debandada pressionada por deuses vulneráveis no seu livre arbitrio,cheios de desdém.
Uma terra feiticeiramente acolhedora,repleta de requebros sensuais,esvaziava num momento uma identidade secular ,olhando impassível aquele vai vem .
Aquelas gentes converteram-se num abrir e fechar de olhos,num fóssil histórico que os tempos se encarregariam ignorar em nome de uma nova
Paz e em nome de uma nova Justiça.Porém,ninguém estava em condições de antever o que iria acontecer.Os que tinham decidido ficar,não se apercebiam de que já não eram senhores de si próprios,nem
tão pouco do seu poder aburguesado.
Uma nova era tomava vulto.Enigmática.Talvez por isso se partia.Os que insistiam em não arredar pé comportavam-se como meros espectadores.
Maria filha do MarLonge.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Terra do Mar Longe

O sol insistia em aquecer o aeroporto pejado de gentes.Um vento fresco trazia o eco do Mar como a expressão passiva do drama que nos rodeava.Uns partiam fervendo horas de expectativas cruéis ao partirem da terra que vira nascer geraçóes .Era o torrão natal.Outros não
encontravam razão para ´não caminhar pela estrada longa da esperança no futuro.Outros comportavam-se como meros espectadores.
Os que partiam já nem reparavam em ninguém.Era como se entre uns e outros ,o presente e o passado fossem já vocábulos sem conotação afectiva.Velhas amizades iam se transformando em
sombras de lembranças.
Era como se o verde das ervas tivessem ,de repente,perdido o viço e as raízes mirrassem por uma queimada irrompida bruscamente por mãos calosas e ásperas pela calada da noite para preparar as entranhas da terra para nova colheita de mandiocais .
o regresso para lá do Equador hostilizado assustava as florinhas dos montes ,o cortejo das estrelas,os roseirais,as folhas a cair e os ventos frios. (cont)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

quem sou

Sou a filha eterna
dos coqueiros
tão altaneiros
de verdes cabeleiras
abraços das palmeiras.
Secas são esteiras
nelas guardei meus segredos
meus doces enredos
cantados,sonhados,castrados.
Sou a filha dos búzios
que me choraram
me abraçaram
na hora do adeus
em soluços
Sou a filha das chuvas
a gotejar
meus cabelos enredar.
Sou a filha-mulher
feita da tua rebeldia
Oh!Mãe ÁFRICA
SOU uma fatia esguia
das tuas florestas
das datas em festas.
Ah!Como tudo de ti vibrou
uma africana gerou ,
ao sol,ao vento te cantou
trovas que tanto amou.

Maria-filha do MAR LONGE.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

ecos

Adormeço no aconchego dos sonhos .Esvoaço no meu cavalo alado pelas ondas a marulhar ao ritmo do sussurro tranquilo das casuarinas.Sou nuvem passageira .Um vai vem.Um castelo de areia na beira do mar.Aí espero pela noite repleta de estrelas para me sentir deusa enlouquecida por ser apenas um corpo por onde se cruzam e fogem a música e o fogo dos espaços eróticos em festa
Falo de mim em gritos entre lágrimas e sorrisos .Tarde demais para me doer a nudez da minha alma.Vazia.O brilho estrelado da noite continua a toldar o meu sono.
Uma imensidade de sentires,um abraço do que já não volta nem vem.Fica guardado
a sete chaves no fundo do coração.
O meu cavalo alado chama-me e relinchando voa sobre o ontem e o amanhã.

maria filha do Mar Longe

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

navegar

Os sons da banalidade chegam-me todos os dias ,mas não enchem
de cinzento o meu quotidiano ,apenas me dão força para partir no meu
veleiro em direcção a sítios só meus .Aí pinto as cores do arco-iris nos meus sonhos e eis que o azul surge em várias nuances .Porquê?Ah!a inocência mora ainda neles ,criando para mim um céu também só meu.
Viajo sem Amor .Aternura passou sempre de longe.E eu com uma alga ao
peito na proa aspirando a maresia do Mar Longe oiço os segredos petrificados dos corais,habitantes do esquecimento,e o Mar aberto veste-se com as cores que os sonhos lhes concedem.Recriam luas sensuais e renascem diariamente como poemas.Maria do Mar Longe.