terça-feira, 30 de novembro de 2010

Etna Maria recorda

Etna Maria
Eis recordações que me tens enviado de pessoas ,vidas ,sonhos que não chegaram a realizar-se na Terra do Mar Longe .Saltaram decepções ,enganos ,amores .Desta vez fiquei encantada com
a presença da Madame Lavado,tal como dizes uma ostra,mas sem o manto de madrepérola .
Era uma espécie de deusa Afrodite criada pelas espumas das marés da vida.Tomava bem conta de si.Frágil por um lado ,mas resistente por outro .Era uma ostra solitária num espaço igualmente solitário por onde apenas mufanas serviam -na carinhosamente.Andavam de ponto em branco .
O seu pescador não lhe lançara a rede.Se calhar não se fizera pérola .Ficara então naquele casarão com as dores da alma .Ainda me lembro do jardim lateral de canteiros com rosas sempre vigiadas por algum mufanita .No meio uma árvore de fruto .Agora como estaria?Se calhar completamente dominado pelas ervas daninhas povoadas de bogononos que rame rame cabriolariam pelas pedras a arrematar o que restava de canteiros.
A atmosfera daquele lugar vai-se infiltrando em mim que ao regressar do colégio á tarde qdo não havia desafios de berlindes,pelava-me por pilhar uma rosa sem receio de ser caçada por um dos seus guardiães mufanitas.
Enquanto deambulo por aquelas paragens ,deslizo o alfabeto do meu mundo silenciado .Transformo-o em linhas da minha gramática intimista .Partilho certamente da solidão daquela mulher enigmática.
Os ventos da nossa realidade já não têm sentido .Estamos mais sós ,mais vazios.




Não gosto da dor
é uma ostra desventrada
fica vazia do teu calor.
Nela fica a vida magoada
lentamente é largada
fora do meu cruzeiro.
Resisto
insisto
avanço
por ti chamo
de braços abertos
aos teus afectos...
Vou vencendo
o pior inimigo
em luta comigo
a solidão
fechada na mão.
Maria,filha do Mar Longe

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