domingo, 14 de novembro de 2010

Etna num tempo em silêncio

Cada dia que passa é uma forma de me situar no espaço onde apenas a memória habita.
Etna Maria
Viajo num tempo já em silêncio .Não é preciso remexer nos valores de que somos fiéis herdeiros,africanos brancos portugueses de segunda classe.Jamais esqueceremos este anátema criado pelas forças do poder para nos diferenciar .Como se esse sentido selectivo tivesse tido o efeito esperado.Hoje ,após trinta e tal anos ,alterasse a nossa condição de africanos ,É como africanos que partiremos para o Universo da Luz Cósmica.
Esses valores despertam emoções .Levam a questionar a reviravolta nas nossas vidas no outro lado do Equador .Olho essa reviravolta em silêncio .Geografia humana de contornos sinuosos. A penas nos dão ,o País sem o nome da terra onde se nasceu e a vida começou.Racismo ou apenas marginalização?Fomos,sem dúvida ,um osso duro de roer e de digerir .Hoje ,somos apenas gente sem história.Restos fétidos de um tempo do qual durante tempos a Portugalidade já não era cravos engalanando estrategicamente o cano de espingardas ,mas um feriado aproveitado para destressar aqui ou acolá.
Etna Maria ,aqui navego pela memória sem mágoas pelas ruas deste rincão .Vultos,Recordações .
É o que subsiste .Um rascunho dos nossos longes falando de um espaço de todos e de ninguém .
Aí se esconde a nossa fragilidade disfarçada em indiferença por tempos sem regresso.
Um mundo já outro.
Aqui estou na busca desse mundo já outro.
Desço a rua dos shitolos .Já nem me lembro se tiveram nomes .Era a rua do jacob.A rua do hotel velho ,a do gindolo,a do Momadiana,a do clube dos hindus ,a do Rainho ,a do Alcobia enfim,de acordo com os comerciantes .Isto neste momento fez lebrar aquele provérbio lusitano "um só caminho como os bois do Minho"
Os shitolos dos hindus ,caladinhos ,de portas fechadas.Já lá ia o tempo a regorgitarem de gentes ,um bulablar apressado por causa do gazolina para a outra margem Capulanas coloridas,calções de caqui,sabão em barra ,máquinas de costura a pedalar sem cessar ,uns a entrar e outros a sair apressadamente.O shitolo da copra tb estava silenciosa .O cheiro enjoativo evaporara-se.Fazia-se daquele espaço uma espécie de clube onde se cruzavam pelos ares negócios a fechar
de acordo com a época dos produtos cultivados lá no interior no mato pela vizinhança da aldeia encaniçada.
Como estas lembranças devem comover-te,resentir o que já vivemos .Olhas para trás e percebes o passado com os olhos de hoje,A transitoriedade das coisas serão sempre socos no estomâgo.

Maria ,filha do mar longe


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