terça-feira, 30 de março de 2010

Etna e a terra do mar longexxxII

Etna ia caminhando pelo paredão da praia.Reconstruia-se.Precisava do cheiro da maresia ,de sentir que estava viva liberta das grilhetas de outros tempos.Despreocupada.Como desejaria eternizar aqueles pontos de reencontro,detendo a marcha do tempo.Gozar a paz do esquecimento.Derepente parou.Aquele caminho trouxe-lhe a casa simples e humilde das infâncias.Estava tão envelhecida!exclamou Etna.Reparou que uma enorme mangueira espreitava pelo murocarregadinha de mangas a amadurecer.Muitos anos ali se vivera.~
Afastou-se .Foi dar um giro pela casuarina centenária sob cuja sombra rolaram horas a escutar as vozes do mar.Lá estavam restos de colunas deterioradas pela erosão dos tempos.Dizia-se serem restos mortais de uma capitania do porto.Subindo por um carreiro de areia ,chegou à pergola ,moribunda pela solidão e dos carinhos de restauro
-Lembras-te ,Etna Maria sempre pejada da criançada?E as mamanas atentas aos mais pequenitos naqueles carrinhos de bébé à inglesa?Apareceste na minha imaginação como uma galinha seguida dos teus pintainhos.Uma experiência humana sem inquietações nem sinais de um mundo em mudança.A árvore do canhi ainda lá estava mas sem o baloiço que só servia de zaragata entre as crianças.Seria que as crianças destes tempos já não gostavam de andar de baloiço?
A Etna pareceu ouvir vozes :
Vem ....não vás
olha o teu baloiço
céus ....bem as oiço

mas eu parto todos os dias,sem poder voltar atrás.
Tinha de passar ao lado de tempos da mesma forma que os barcos no alto mar que aguentam temporais.
O entardecer movimentava-se nas suas vestes em tons amarelados em que avermelhados se enroscavam deixando o castanho intrometer-se.Sentada em frente do que já fora uma prancha de saltos,Etna contemplava aquele pôr do sol mágico.Levava os destinos dos que partiram sem regresso.
-Sabes Etna Maria tive pena de náo ter pedido para entrar na casa das infâncias e ir ao encontro
dos degraus onde tu te sentavas a conversar com o josé ,apaixonado da tua mamana .Ladina .Eximia dançarina do batuque e bem requestada ,o que o punha alvoraçado de
ciúmes e inquietações.Lembras-te como definia a mulher?Shi ....menina ....mulher?Fala uma coisa ,sente outra e pensa outra.O poder e o mando não faziam parte do estar na vida da tua mamana...Era como se alguém a pisasse.E josé ali ficava com a cabeça entre as mãos .Estragava-a com mimos mas sabia bem que a tua mamana não era propriedade privada,nem ele josé o seu dono.
Olha ,Etna Maria cada dia que passa tornamo-nos numa lembrança .Já estamos no meio do nada.

Maria ,filha do Mar longe










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