terça-feira, 22 de junho de 2010

Etna e a Terra do Mar Longe

Ena Etna Maria ,muito recordas da Terra do Mar longe .Nem imaginas as fotos tiradas.Vão deliciar-te.Vão lembrar-te bem de onde vieste.Por aqui ando avivando recordações que,após
tão longa ausência ,fazem sorrir.
Sei bem quanto as coisas pequeninas são as mais ricas por dentro fazendo-te muito feliz.Não há
lugar que não me encha de alegria .Uma forma de relacionarmo-nos com a vida,despindo a nostalgia ,os cheiros,o pôr do sol vestido de amarelo de braço dado com o castanho e o vermelho.
as mangueiras pejadas de mangas a amadurecer e os cajueiros com aqueles pomos de nectar bem coloridos.
A Terra do Mar Longe mora eternamente dentro de nós .Viu-te nascer.Deu-te as infâncias perdidas .És fruto deste mundo e nele queres morrer.Neste mar da vida ,resta-nos aproveitar
cada momento .
Subo a ladeira .Respirei a luz do sol que ilumina a caminhada em direcção ao cinema de largas entradas agora repletas de nada nos dois lados.
Nas noites de cinema regorgitava de gente .Uns fumando .Outros bulablando ou fazendo curtos
picadeiros.
A rua deserta sussurra lembranças de ontem ,ouvindo-se mercedes benz preocupados com o estacionamento no mesmo parking do governador como forma galharda de exteriorizar a balança
da vida.Vejo-os na neblina do tempo Enxertos de memória levam-me à sala do cinema .Lembras-te da divisória quase ao fundo da plateia?Aí ficavam os mufanas das sananas
dos molungos e das sinharas .Como vibravam nos filmes de Far west!Ouvia-se "eh!pá,languça
e qdo o herói do tiroteio saia ileso ....um alarido de satisfação.Saiam lateralmente .Nada de misturas ,caso para dizer "cada macaco no seu galho",mas em grande galhofa com tregeitos dos tiros ou outros gargalhando.
Tive pena daquele espaço destinado ao silêncio na carreira de entretenimento.
Tem como companhia o velho clube Sporting frequentado pela elite de poder económico socialised .Hoje de janelas fechadas de paredes delambidas pela humidade das chuvas .Somente
um corpo enrugado .Mesmo assim ,apetecia-me um pedido:deixa-me entrar ,ver -te por dentro
rever a altivez da elite ou julgas que esqueci o tempo em que expulsavam a criançada fora do
circuito monetário?Não passa de uma alegoria mundana .Uma identificação inquietante.Nem sei
os anos de existência.
Desci a ruela de antiquérrimos casarões ,bem aborrecidos com tanta solidão.Fui desembocar ao
Banco.Entrei para cambiar uns parcos dólars .O balcão abarrotava de clientes.Expeditos,sabedores dos interesses económicos.Atarantada a minha vez demorou a chegar.Pude observar a ligeireza com que movimentavam os seus interesses.Um rosto feminino
,fechado abeirou-se de mim.Em silêncio os dolars foram cambiados .Nem um sorriso que mais não fosse de cordialidade turistica .
Que somos nós?Fantasmas?Senti-me mesmo um fantasma solitário de uma vida roubada ...um ente sem ser como costumas definir-te que te leva para muito longe com tantas palavras por dizer .À medida que por aqui vagabundeio ,vou compreendendo melhor os teus dias de tempestades por não estares neste chão e viveres o abismo solitário de ti própria mas sempre
humana.
Lembranças,memórias de um tempo ido em algures perdidos nos recantos do tempo .Agora ,no
outono da vida ,são apenas retalhos amarelecidos.

Maria,filha da Terra do Mar longe


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