quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Terra do Mar Longe V

Etna deu-se conta de que o azul daquele céu já respirava memórias do outro lado do
Equador para onde se dirigiam os novos albinos.Aventureiros sem rota definida.Paisagem humana.Andariam de um lado para o outro à procura de um lugar onde pudessem descansar humilhações e amarguras.Ou instalar.se-iam em espaços de um passado longinquo habitado por rostos familiares .Uma tentativa de recuperar a vida aburguesada trazida a reboque do antigamente.
A memória é como uma câmara escura.Flashes repentinos iluminaram aquele presente de Etna.Desfilaram retalhos de infância,adolescências de líbidos recalcados,jogos de sedução escondidos para se manter incólumes éticas preconceituosas,autenticas portas abertas a vidas sem projectos,mas vivenciando amores da cor de ébano fechados a sete chaves no coração.Ainda hoje os revivem quando a solidão vem visitar como inclemente maldição.
Etna olhou pela última vez os coqueiros altaneiros,os cajueiros coloridos de seios africanos,pomos de nectar já voluptosamente atrevidos.
Mufanas e moleques encostados ao gradeamento de controlo do embarque apreciavam inexpessivamente aquele agitado reboliço dos novos albinos.As memórias de um passado em redemoinho despertara memórias.Iam despir-se de ressaibos passadiços que fantasiaram linhagens mistificadas numa ascendência brasonada.Porém montes e vales,rebanhos de cabras criadas ao relento,tiritando de frio,balindo pela imensidão das terras eram outra imagem do mundo.Molhos de lenhapara cozer o pão,crepitar a lareira ou fumar os enchidos,na falta de outro peguilho para aconchegar o estomago dava a nostalgia de um mundo que só existiria
com resignação dentro de cada um envolvido pelo vento das monções.
Maria-filha do Mar Longe

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