terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

terra do Mar Longe-III

Respirava-se uma nova era,sem contornos,nem linhas definidas e muito menos sem a capacidade de aguarelizar o futuro em tons quentes e esfusiantes.
Os que insistiam em não arredar pé comportavam-se como meros espectadores.Era como se estivessem instalados num camarote de um teatro,refastelados em almofadas aveludadas de vermelho arrematadas a dourado.Parecia que assistiam a uma peça burlesca ou melhor ainda a cenas hipotéticas ,grotescas ou caricatas de alguma ópera que conheciam de ouvir falar.Não entendiam correctamente o enredo porque a encenação era de gestos ,correrias,vozes alteradas,gritantes,desconexas.
Etna jamais esqueceria essa tarde como a pelicula de um filme constantemente em rodagem na retina por anos ininterruptos.Sabia de cor a sequência das cenas.Conhecia pormenores de cada uma delas.Reencarnariam como sementes do passado com a missão de tornarem a nova época bonita num manto de esperança,bloqueando forças nocivas e dispersando as energias negativas da História
dos Homens.Quando morresse ,Etna seria uma morta sem sossego.Voltaria para reviver naquele espaço que lhe era castrado apenas por causa da cor da pele.Seria então feliz.voltava andar descalça,saltar os muros das nunus da esquina e deitada na esteira lambuzar-se de linfete ou bolinhos de coco ou fisgar as galagalas de cabeça azul.
Embora hajam momentos que dóiem muito,estes arrastam o eco da sobrevivência.Por isso,a Etna restava-lhe apenas caminhar de olhos vendadoscomo que à beira de um abismo e neutralizar obstáculos para não produzir mais estragos na
sua alma.Só Deus sabia como afinal todos estavam com os nervos em franja.
Quer os que ficavam,quer os que partiam nem imagiinavam as surpresas que o amanhã ,o depois de amanhã entrariam pela casa a dentro,ora felizes,ou traiçoeiras,
subtis,engenhosas.Poriam à prova a capacidade de reconstruir o novo homem como
cidadão com novos objectivos e capaz de gerar novos seres.
Maria -filha do Mar Longe

Sem comentários: