terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

etna e a terrado mar longe XVII

Etna guardava as imagens de tudo por onde passava .Aquele estar ali era um troféu com o qual aprendera que afinal as coisas pequenas mas grandes por dentro devolviam-na às suas raízes.Que estranho apelo do outrora.
A Avenida continuava vestida de mimoseiras sorridentes no seu amarelinho ,frondosas,pujantes,apenas empoeiradas.Se calhar lavavam-se na época das chuvas torrenciais.Deviam ficar lustrosas como se fossem a um baile por algum tempo.Olhou-as com carinho.Eram testemunhas da criançada sob as suas sombras fresquinhas.Ali as mamanas tinham sob a sua vigilância o soninho dos meninos dos molungos patrão .
Etna ,de repente ,recuou no tempo,bem no tempo.O tempo do coaxar das rãs pelos charcos ladeados de capim e carreiros tortuosos que conduziam
as gentes à cidade do caniço ao ritmo de rann....rann...rann ...bem ensurdecedor.Dificultavam as passadas pesadas dos magaiças à sexta feira ,carregando ao longo do corpo subnutrido ,o sobretudo à general com botôes amarelos luzidios,a viola,a ginga ,o lampeão,cobertores ,bugigangas coloridas capazes de seduzir as tombazanas festeiras lá da aldeia encaniçada .Ser Magaiça era manter-se idêntico a si próprio ,fiel à
herança ancestral e promover-se no ranking social.Ganhara dinheiro,fossara as entranhas da terra ,sofrera faltas de ar,o frio ,uns copos de cerveja e comida mal confecionada.Era um herói e como tal era considerado.
Ir para as minas do John ,comer o pão que o diabo amassou ,dormir sabe Deus como ,com o pensamento na aldeia ,escondida dos matagais embalavam o corpo dorido .Aí seria recebido como um senhor de terras e gado.Era a apoteose .Um triunfo.Um trunfo de peso para requestar a sua tombazana,como um relicário traduzido no lobolo bem chorudo ,vacas,cabras e dias de festa ao som do batuque ,mulheres rodopiando
com grande frenesim sob o olhar atento dos velhos..
Conservava-se religiosamente aquele ritual.A mulher aceita o que os deuses órfãos impõem como destino.Complementariza-se o acto da fertilidade.Ela suporta calada a nudez do seu corpo no braseiro de uma cruz milenária.Mulher ,jovenzinha ,casada fica.Alma sofrendo sob o halo do silêncio.Este duplica-se qdo uma nova estrela aparece no cinzento da existência.Mulher fruto por amadurecer conformada com a destemperança dos deuses órfãos que passam ao lado da reprodução.qdo esses deuses não acordarem do sono letárgico em que ainda estão ressonando ,sonhos de mudança vaguearão pelas estações dos tempos.

Maria,filha do Mar Longe.

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